Encantamento
Olhando pela janela do carro, parada em uma rua qualquer, fascino-me com cada pingo, a chuva cai deliciosamente no silêncio barulhento de cada gota.
Não tenho noção da hora nem pretendo, sinto me seduzida, completamente.
Meio hipnotizada, um tanto quanto boba, tudo parece ficar invisível ao redor, pois só tenho olhos para ela. Minto; bem em frente onde estou uma casa de paredes brancas e molhadas, janelas fechadas enxergo uma roseira que excede as barreiras da mureta e eleva uma rosa exuberantemente amarela que fica a mostra para quem faz daquele caminho seu trajeto; é uma imagem deslumbrante: boquiaberta.
É sedutora a forma como cada gota daquela cai sobre as pétalas que sacudidas pelo vento se jogam ao chão, e então fico pensando:
_ Da pétala ao chão, provavelmente aquelas gotas adquiriram outro perfume!
E me peco nesse pensamento, imaginando qual seria a fragrância daquela água que agora imagino ser água de cheiro.
De repente desvio os olhos e percebo próximo dali um bar com aproximadamente uma dezena de pessoas ou mais,não sei, conversando sobre vários assuntos, vozes altas, risadas espalhadas talvez já com sintomas de embriagues, alguns em seus celulares de marca boa ou não, sem a menor atenção no que está acontecendo aqui fora, tão grande é a distância de cada um.
E mais a frente, talvez em final de expediente, três homens sob a marquise de um prédio em construção, um tanto descuidados certamente pela execução das atividades nada fáceis.
E o meu pensamento se volta para aquelas pessoas que não percebem esse espetáculo, ou seria eu sensível e boba com demasia para ter tais pensamentos?
Não sei explicar esse tesão que me causa a chuva, essa vontade de devorá-la, de abraçá-la, essa sensação de possuí-la e ser possuída, de sei lá o que. Eu confesso que ela exerce um poder gigante sobre mim mesmo sabendo que ela escorre por entre a terra e volta outra.
Uberlândia MG
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