Cicatrizada
Lá estava ela. Linda, vermelha, redonda, lua.
Acompanhou-me sorrindo toda a estrada.
Eu olhava ela olhava.
Eu sorria ela sorria.
Era só uma lua me acompanhando no céu.
Lá do alto olhei mais atenta e avistei a cicatriz.
Espantei.
Ferida cicatrizada, fechada.
Tentando lembrar o motivo cheguei.
Desci e encarei.
Olhei o punho, também cicatrizado.
Não lembrava do que a mancha: a minha e a dela.
Entrei, sai e insisti. Nada.
Deitada olhava a janela, ela de lá cismava.
Do punho o fogo. Distração de segundos.
A dela um punhal profundo. Lamina afiada de uma esperança tola.
Dormimos eu e ela.
Ela rodando o céu de uma ponta a outra.
Eu encolhida na cama, sem sonhos.
Dia feito, a cicatriz escondida, ficou a lembrança morna, empoeirada, envelhecida.
Até mais lua, nua, cuidado comoutros punhais.
21.35 h de hj, de 21.35 h de antonte.
Lu Siqueira