Cores e Dores 1 (Azul)

"Artists can color the sky red because they know it's blue. Those of us who aren't artists must color things the way they really are or people might think we're stupid." - Jules Feiffer

(Artistas podem colorir o céu de vermelho porque eles sabem que é azul. Nós, que não somos artistas, devemos colorir as coisas do jeito que elas realmente são, ou as pessoas podem pensar que somos estúpidos.)

Azul

Ela segura a ave que ele tão gentilmente colocara em suas mãos.

Ela sente suas penas macias e brancas, a respiração frágil, enquanto olhos assustados movem-se velozes.

Ela acaricia a ave tão pequena e sorri, sentindo um certo poder.

Ele a fita ansioso.

-Espero que a aceite e cuide bem dela. É um presente.

O ar está parado, quente. Um silêncio quebrado por pequenas pulsações irregulares.

Um coração acelerado.

Ela sente a pressão entre seus dedos. Olha para ele e além, mas não enxerga o que procura.

-Onde está?

A pressão aumenta. Ele fecha os olhos e uma lágrima nasce.

-Onde está??

Ele não consegue mais segurar e a lágrima se transforma em pranto.

Irritada, ela olha para o lado. A pressão quase insuportável em sua mão. Sente dor, mas não liga.

Ele continua a chorar. Soluça.

Os sons misturam-se na sala vermelha. Uma sinfonia de soluços e ossos partindo.

Ele cai de joelhos aos pés dela.

-Amor...

Gotas caem em sua testa suada, e escorrem, misturando-se às lágrimas.

Ele enxuga o rosto. Suas mãos agora vermelhas...

Ele percebe o erro.

Ela devolve a ave.

Segurando a massa sangrenta e sem vida, ele a vê abrir a porta.

- Aqui, amor, estava bem aqui...

Mas ela não ouviu.