Fluxo de consciência nº1 (30-11-2014)
Vocês que não me procuraram nas valas das ruas ou nos bares mais imundos que eu ia, um rádio de mesa tocando uma velha música dos anos 70 tipo Wild Child Butler e que não toca mais nada agora que a polícia dessa cidade ridícula conseguiu finalmente fechar as portas e as vozes desses lugares; bem eu estava lá porque eu estava lá e ninguém sabia ou sabiam e ninguém ligava porque no fim as contas todo mundo tá na mesma situação, eu não to com saco pra ler teoria, eu não quero entender mais nada por enquanto, não quero comprar nenhuma camisa ou sapatos novos, olha eu to respirando essa fumaça de carros e poluição que vem do outro lado do Guaíba que eu já vi que tem umas torres que soltam fumaça o dia inteiro todos os dias, e agora eles vem aqui me dizer que eu não posso fumar porque isso e aquilo, me poupe meu bom coração que esse é meu jeito de não enlouquecer com as loucuras do mundo e quando eu digo não enlouquecer é tanto pra pular de um prédio quanto vestir um terno bem ajustado, entrar no meu carro classe média alta e dirigir do bairro Floresta até o centro administrativo que é aproximadamente umas 5 quadras sentar na cadeira na frente do ar condicionado trabalhar numa luz branca que dá dor de cabeça depois tomar um prozac voltar pra casa e dormir, olha mas que inferno quem quer isso pra si, mas todos querem isso pros outros. Eu to ficando louco e isso tem me irritado, e eu ando irritado do dia a noite e então de madrugada quando eu começo a tremer incontrolavelmente até acabar dormindo por cansaço umas 3, 4 ou 5 da manhã; Bom seria bem bom poder voltar a essa década de 60 de onde tudo que eu tenho lido e visto vem, e essa mudança louca desses anos 50 pra tudo que aconteceu, e num ritmo frenesi que ainda é possivel numa vida e num ser humano, mas agora século XXI uma avalanche de manchetes em cem, duzentos, trezentos, mil jornais e isso só aqui no Brasil, e o facebook e todas as redes sociais bizarramente criando umas bolhas que você acredita que é visto, lido e compreendido e tudo bem curtir uma frase ou uma foto de uma garota bonita e de um menino e de um cachorro e de um protesto na puta que pariu e um cara saltando por um carro e depois mais um menino bonito que quem sabe talvez no futuro e depois uma piada sem graça que todo mundo achou engraçada ah isso eu não vou curtir e ah aliás simplesmente excluir essas pessoas que pensam minimamente diferente de mim e de ti, bem, isso é bem enlouquecedor pra mim. Queria que nem esses documentários poder sentar em uma sala cheia e ficar sozinho mesmo com uma Baez tocando violão ao fundo, e umas crianças chorando do lado de fora e o tumulto de mil línguas, eu poderia sentar e escrever ou ler uma revista em paz e isso seria aceitável. Mas agora é o contrário, meu quarto é vazio de quadros e minhas estantes tem lugares vagos pra câmeras antigas e papéis soltos e por mais que eu esteja tentando deixar a música tocar e deitar na minha cama, as pessoas insistem em curtir sabe-se lá o que eu postei aqui hoje ou ontem ou a anos atrás, e no meu celular tem várias mensagens de oi como está e como foi seu fim de semana e eu comprei uma roupa nova olha você me acha bonito vamos transar qualquer hora dessas e eu só queria, pelos deuses, ouvir esse cd do Bob em paz mas tem muito som saindo de tudo e todos os lugares eu preciso ficar sozinho eu precisava eu precisava não enlouquecer eu precisava ser só uma pessoa e ter tempo de ser uma pessoa e viver e morrer mas e eu tenho bom tive que levantar pra mijar e acabei esquecendo de tudo que eu tava pensando mas tudo bem é assim mesmo tá tudo bem. Eu to ansioso é claro que eu to tremendo não sei se é de nervosismo ou dessa irritação que não passa nunca mas calma que ela disse que isso vai passar um dia e que tu se acostuma e isso não vai ser fatal daqui a uns anos porque o tempo passa e muda tudo e eu sei eu entendo eu já sabia mas é melhor ouvir isso dos outros pra viver também o que os outros vivem e saber que todos sabem o que eu sei de maneira simples e misteriosa as vezes até sem saber bom calma. Eu to tentando me focar eu to tentando sentar e trabalhar e formar um trabalho com uma linha tipo isso que a gente ouve e vê quando sai pra uma exposição ou uma triologia de filme uma série uma coleção ou coisas assim mas olha isso parece que não faz sentido no mundo como um dia fez porque eu junto todas as coisas que eu faço e na verdade eu sou mil sou várias coisas e queria ser tudo mas como eu vou ser tudo estando dentro de um corpo e todas as coisas passam tão rápido tão rápido que já passaram e eu não consigo me ater a nenhuma mas eu preciso eu preciso. Mas eu preciso? não Bom talvez não e por isso eu tenho enlouquecido e ficado irritado com isso porque eu nunca fui de aceitar as contradições e as coisas como elas são eu preciso entender e tenho entendido e por isso cada vez mais bem é isso não existe resposta mesmo por isso eu preciso parar de pensar. Na verdade existe sim resposta mas uma resposta são na verdade mil e milhões de respostas e umas são contraditórias as outras e o processo de pensar leva a loucura irreversível e por isso to irritado. Que eu volte, talvez, voltarei um dia, cantando ou escrevendo versos ou riscando umas folhas ou gravando umas coisas com minha câmera digital, é possível é bem possível. Mas antes eu preciso parar e aprender a não entender mais nada e aceitar o não entender é um matrimônio que é também um casar-se comigo e quando vocês estiverem aqui eu já vou estar lá ou talvez em lugar nenhum mas felizmente eu tenho encontrado algumas pessoas por aí. Eu preciso me aceitar na incompletude na impossibilidade nas mil almas e mil pessoas que eu sou e também nas milhares e milhões de coisas que eu não sei nem nunca vou saber que eu não sou nem nunca serei e nas mais infinitas possibilidades que serão no futuro porque o futuro está vindo e chegou e já passou e bem é isso mesmo talvez eu me perca eventualmente mas aceitar que isso também é estar bem e eu não tenho como. Talvez assim eu fique melhor e é só isso mesmo, publicar.