Carta de Renascimento
Você vai trilhando a jornada em sua frente e passargando pelos altos e baixos, caminhos claros e escuros, se ronda de pessoas e coisas e iluminadas e se ronda de outras a luminescer, e trilhando este caminho você não percebe que em alguns momentos você vai deixando de ser você, e vai se tornando outro, vai se afastando de quem você foi em origem e vai mudando e mudando talvez crescendo talvez errando. E, no decorrer da trajetória não percebe a tamanha diferença, se alegra com os arco íris que te incitam a tempestade e se assusta com os fogueios do seu tanto novo rumo. Você vai mudando seus conceitos, preceitos, sonhos e convicções, as vezes convicto, as vezes perdido de si mesmo. Você não sabe se olha para trás, ou para. Se segue em frente, você abriu-se a um leque de oportunidades e não sabia como lidar com isso, mas trilhou. Continuou tentando e uma hora caiu, caiu fundo, caiu largo, dolorido, quis largar de tudo, voltar atrás, pediu pela casa, pela mãe, pelo pai, pediu socorro e ninguém viu, ninguém veio, seu caminho já era ido, já era fato, e o jeito era seguir em frente, e em meio a isso tudo você lembrou que era preciso analisar a trajetória da sua caminhada, as suas atitudes, as suas companhias, as suas vontades e tudo mais aquilo que quereria poder imaginar, mudar ou criar para sua realidade naquele momento. Analisar todo aquele mínimo mancebo que por agora você queria enterrar, mas teria que lidar com ele, pois já o havia criado.
Então você reduziu os passos, olhou, analisou, parou, chorou, mudou, voltou atrás, e tentou, tentou e tentou, até o seu último recurso, e então desistiu, e tentou de novo até morrer em si mesmo e renascer em outra pessoa. Levantou, olhou o estrago e pensou, refletiu e deu um próximo passo, a partir de sua nova origem, talvez não tão pura qual a original, talvez não tão bela, porém mais sábia e real, e novos devaneios foram criados a partir dos novos velhos demônios que apareciam em sua história, em relação aos velhos novos demônios de cada dia que ainda não aprendera a enfrentar, em relação as almas perdidas que tanto não conseguia salvar.
Tentou caminhar impregnado de amargura e desesperança e esqueceu de certo a sua origem e afundou num infundado desconhecido, buscando alguma iluminação, alguma resposta, talvez vinda do alto ou de qualquer lugar, caminhou renascido, mas desesperançado, esperando um novo álibi para sustentar as suas idéias agora já tão firmes como outras que acabaram plantadas em você. Amargurou-se, esqueceu-se e chorou, em seu nascimento não havia solidez, não havia objetivo, eram réstios traços de uma vontade forte agora esvaída. Sem saber o que fazer seguiu em frente, sabe lá se uma hora o grande obscuro se abre e reluz dentro de si a tão honrosa luz a que tanto se almeja e caminhou, sem saber para ou onde ou pelo que, apenas pela vontade de não desistir. Lutava com as forças esguias que insistia pra não desistir, novamente acabou por morrer, e renasceu de novo, e de novo e de novo, a cada vez sem um pedaço, sem um traço daquilo que era antes, até que lapidado começou a emoldurar-se de jeito diferente, redescobriu seus sonhos antigos e se conformou com os que ainda não realizara, acreditou no poder da paciência e tentou caminhar a mais curtos passos, cortou o que lhe afastara de seu gosto e o fadava a desgarrar e continuou, lapidado e lapidando caminho a caminho, sem saber muito agora o que tanto buscara, mas continuou lutando, coração paciente, descobrindo a cada dia um pouquinho de sonho que nascera em seu coração, e pouco a pouco aprendendo a semeá-lo de modo que já não era tão frágil como quando nascera, cada vez menos a cada vez em que renascera. Aprendera a insistir em seu caminho e a desistir compreendendo que as vezes o não era a melhor opção. Aprendendo a lidar aos poucos com o que ainda não era de sua compreensão. Seguira caminho para uma trajetória ainda desconhecida, cada dia mais comprazida à sua renascida.