Espirituosa
Ele, o próprio falante, continuava sem perceber o máximo do meu silêncio, aliás, ele nunca percebera que, enquanto se comunicava comigo, eu o sentia telepaticamente, não, ele nunca se deu conta... porque eu sou a calada que escuta e apenas sente.
Ele falou por mais algum tempo até que percebendo, afinal, a minha mudez inaudível à sua percepção, passou a língua nos lábios para umedecê-los, olhou bem fundo nos meus olhos e disse: _ você está triste? Prestou atenção no que eu te disse?
E eu muito calmamente respondi: _ Eu sempre presto atenção em tudo que você me fala, você começou falando de chuvas e das águas tão frágeis que já não molham a terra ressecada, você me disse também que gostaria de fincar os pés na Serra para que pudesse escutar o som dos pássaros , falou também se seus projetos para a sua nova vida de divorciado e também me disse com muita firmeza, que, jamais tentaria roubar um beijo meu...
Nesse momento, emudecemos sem ter a chance de quaisquer palavras sobre chuvas e afins, mas a enchente já molhava toda a terra ressequida.