Ismália....

Quando Ismália enlouqueceu

fixou um ponto fixo na janela.... um pedaço de rima, uma sujeira qualquer. Fixou o olhar e já estava, mergulhada dentro de si. E toda a sujeira do mundo ficou guardada naquele olhar perdido, com gosto de passado adulterado.

Quando Ismália emudeceu, seus olhos faiscavam. Simplesmente deixou-se emudecer diante dos fatos. Engordou, como toda mulher sofrida que tem comida sobrando em casa. Mas ficou , como cera, pálida.

Quando Ismália padeceu, seu corpo estático verteu à paz do nunca "dantes visto".... Uma calmaria aparente, revestida em alegrias fúteis e inconsoláveis.

Quando Ismália me olhou, eu tive pena. Mas foi pena passageira, que é a pena que se sente daqueles que se entregam à própria loucura. Eu tive inveja, quase... da sua ousadia pura. Mas foi só um instante besta. Depois fui pitar um cigarro de palha...

Subiu na torre, a rufar...

As saias? As asas?!? Não se sabe ao certo. Ninguém viu a tragédia, que só existia na sua cabeça-errante. E se acreeditava em Deus mirou em um farol de luzes baixas... Pensou ser seu amor-próprio, que saíra de mudança pra outras paragens.

Ismália se perdeu... quando, mesmo?!? nem pude ver...

Olhos marejados de lágrimas...

seu corpo pendeu em um mar sombrio de rostos industriais...

pernas múlltiplas disputando espaço com carros desgovernados nas calçadas de Copacabana.

O sangue que lhe escorreu pela nuca... nem bala perdida era... foi a salvação. E Ismália sentiu-se em paz. No céu dos navegantes...