O reencontro da magrela.

Quando pequena, davas-me as asas que sempre me imaginava ter.

-Você me deixou guardada e esqueceu do nosso pacto ao crescer.

Na tristeza, eras minha fiel escudeira que me levava para longe quando minhas pernas já não tinham por onde andar.

- Mas são de momentos de alegria que tu tens a maioria das nossas serelepices a contar.

Na solidão, tu me lembravas da emoção que era o de viver para os pequenos milagres da vida apreciar.

- Corríamos contra o vento por nossa rua favorita, aquela da árvore maior e mais bonita, que um dia alguém a cortou sem razão de ser. Mas desde cedo tu tinhas curiosidade sobre a vida e já sabias o que iria ser ao crescer.

Minha querida bicicleta, tantas memórias boas e foi preciso uma viagem por país afora para me lembrar de quem eu e tu costumávamos ser?

- Na verdade, na verdade, não há mais proveito de mim para ti além do que a diversão. Naquele tempo você não sabia, mas eu era sua liberdade em construção.

O que eu faço agora com toda essa liberdade redescoberta e essa inquietação por provação?

- Um joelho ralado acalma qualquer coração.