NOSSA HISTÓRIA
Muitos anos se passaram, e uma dúvida ainda me atormenta.
O dia amanhecia, e um nobre, da janela de seu quarto,
avistou uma linda camponesa nua cavalgando, enquanto
os raios de sol se tornavam tímidos diante dela.
Um nobre? Uma camponesa?
Não teria sido um camponês,
que encantado foi, ao ver-se diante da beleza de sua senhora,
que nua cavalgava ao luar pelos campos?
De que vale a dúvida?
O certo é que éramos nós dois e,
independente dos raios do sol ou do luar,
permitimos que o brilho de nossos olhos se encontrassem.
E desse brilho surgiu o amor;
e do amor surgiu a certeza que se encontravam novamente,
depois de muitos anos de busca,
e que agora estariam novamente juntos.
Lembro dos momentos de alegria no amor;
lembro da felicidade de estarmos juntos...
lembro dos planos.
Então, de repente, uma névoa vem,
e me faz esquecer o que e por que aconteceu.
Eu só sei que te perdi,
e como louco te procurei enquanto vivi.
O desejo de te reencontrar era tanto
que a morte não foi o suficiente para fazer esquecer, e eu venci.
A cada encarnação eu te buscava.
Em algumas te encontrei,
em outras busquei até novamente vencer a morte e renascer.
Anos, séculos... e eu te amando, te buscando.
Lembro do meu choro cada vez que de um ventre eu saía.
Choro? Não. Na verdade, teu nome meu coração gritava.
Anos, séculos...
Praias, montanhas, selvas... campos.
Campos estranhos... Dessa vez conheci campos onde nos lagos
pessoas navegam em barcos que não são de madeira, que não usam remos,
e nem são levados pelos ventos, mas navegam utilizando-se pedais;
campos onde os cavalos não são reais, e apenas giram com crianças em seus dorsos.
E meus olhos de menino procuram desesperadamente, atendendo ao pedido de um espírito mais uma vez aprisionado a um corpo, por sua camponesa, por sua senhora... pelo amor de várias vidas... pelo amor de toda eternidade. E, de repente, tal qual mágica, ela novamente surge. Lá está ela mais uma vez sobre um cavalo, ainda menina.
Visão rápida, mas forte o suficiente para fazer o espírito sentir que seu amor está de volta para ele. Ele quer ir até ela, ele quer falar, ele quer amar... ele a ouve por ele chamar...
Mas ele preso a um menino a vê, presa a uma menina, ser levada pela mão, enquanto outras mãos pegam as suas. E assim, separados, mais uma vez estão.
Ele chora, ele grita: “não, outra vez não... eu não quero mais brigar com a morte... não quero mais ter que procurar... não nos separem novamente.”
Mas ninguém além do menino o ouve, enquanto sente as lágrimas rolarem por seu rosto.
Ela, mais uma vez se vai, e ele novamente a dor da perda sente.
E os anos passam. Dez, vinte anos... será que mais uma vida triste, entregue a amores que nada representam vou ter que trilhar? Trinta anos... ainda procuro, enlouquecendo a cada noite com a imagem da menina sobre o cavalo de brinquedo que gira e que não sai de meus sonhos; enlouquecendo com sua voz que sussurra a cada sonho em meus ouvidos: “vem... sou tua; vem... ainda te espero, também te busco; vem... também não quero mais brigar com a morte.” Quarenta anos... quanta novidade, quanta mudança! Hoje se navega sem barcos, e por um mar totalmente diferente; um mar chamado Internet. E num porto desse mar, o espírito cansado se depara não com uma menina, mas com uma mulher. O que há de errado com ela? Por que cada “oi” dela soa como um “vem”? Por que a cada “tudo bem” dela ele entende “sou eu”? Por que ele não consegue mais ficar sem procurar por ela? Por que agora em seus sonhos o menino, agora homem, tem em seus ouvidos uma voz sussurrando “você me encontrou”?
E a mágica mais uma vez se faz.
Tecnologia... A magia de uma webcam que se abre.
E diante dos olhos e do coração do espírito que tanto esperou, que tanto buscou, ela surge.
Ele a vê, ele a sente, ele chora. É ela. Está ali, diante dele. Ele quer tocar, quer sentir novamente o cheiro daquele amor de tantas vidas... mas estão longe.
Espíritos sempre unidos, mas vidas separadas... problemas, dificuldades...
Sentem um ao outro, se desejam, se chamam...
Amor virtual... não. Não é isso que querem, mas é o que têm.
Não... unidos assim não.
Distância... quantos quilômetros? Mil, dois mil? Que importa?
Busquei muitos séculos... Nasci, busquei, encontrei, perdi... Chorei, sofri...
E ela também.
Falta tão pouco...
Atravessar céus e terra não é nada para quem viveu tantas vidas unicamente por uma pessoa.
Nasci, busquei, encontrei, perdi... Chorei, sofri...
E você também.
Mais uma vez te ouvi me chamar...
Mais uma vez, ao sair de um ventre, meu coração teu nome chamou, Sue.
Mas uma vez vim... para você, por você.
Percorri quilômetros e quilômetros...
Avião, ônibus, carros... de tudo usei e muito ousei para novamente te ter; para novamente ser teu... em teus braços novamente estou, teu cheiro novamente tenho em meu corpo, teus beijos e carinhos novamente sinto... nosso amor novamente tenho.
Então vem, Sue. Pega minha mão e caminha comigo; trilha comigo o caminho de nossas vidas. E quando a morte novamente chegar, não vamos mais brigar. Ela também já entendeu que é uma briga inútil. Quando ela novamente chegar diante de nós, mesmo que em momentos distintos, vamos. Mas vamos para não mais retornar. Vamos para onde nosso amor sempre vai viver... vamos para a eternidade, o nosso lugar, junto com o nosso amor.