A Rocha

Assistindo dia desses a um documentário sobre um vulcão em erupção à beira-mar, vi admirado que as suas lavas escorriam pela superfície das rochas costeiras e, fumegando, submergiam nas ondas marinhas, e, mesmo sob a água, continuavam em brasa até atingirem o fundo marinho, onde, após certo tempo, se esfriavam, petrificavam e faziam com que a rocha e o continente crescessem. Imaginei a cena como uma batalha - por território - entre o mar e a rocha (pois esta tomava aos poucos o espaço ocupado pelo mar e este, por sua vez, não aceitava perdê-lo...). Descrevi a cena do seguinte modo:

A rocha, banhada parcialmente pelas ondas do mar, reluta.

Reluta a milênios e sabemos que um dia perderá a luta.

E a água vem e a cobre e aquela submerge e depois respira.

Submerge e depois respira. Há milênios.

A rocha ganha fôlego à baixa maré. É tempo de vangloriar-se.

A rocha, esnobe, ainda tine aos quatro ventos como a insultar as ondas.

E o mar se enfurece mais uma vez...

E ataca a rocha dura. E ataca a rocha dura. E ataca... e baixa a guarda.

Trégua então até a próxima maré alta.

Como a buscar uma defesa, a rocha se cobre de corais e crustáceos.

E a rocha dura e ainda mais dura, dura! Há milênios.

Vestida agora de corais e crustáceos, se fortalece.

E o mar se enfurece ainda mais e envia um maremoto.

E a rocha vibra e se agarra às profundezas do continente.

E o mar, ainda mais furioso pela batalha, e não a guerra, perdida, recua...

Mais uma vez recua... Até a próxima maré.

E o mar tem agora um plano mirabolante (ou seria marebolante?).

E envia às alturas as suas águas vaporizadas pelo sol, que a tudo assiste.

E ataca, agora por baixo e por cima, com tempestades violentas.

E a rocha ainda vibra, ora sob e ora sobre as ondas revoltosas do inimigo.

E os céus enviam o ataque aéreo.

E os céus ribombeiam e atacam a rocha com seus raios e trovões.

E lascas da rocha sucumbem ao poder das ondas.

Ondas que espumam de alegria sobre a teimosa rocha.

Mas, eis que esta ainda reluta, fincada às profundezas do continente.

Mas, eis que esta agora busca reforço nas próprias entranhas.

E, para surpresa do mar, lavas incandescentes o fervem por baixo.

E a rocha cresce em segundos o que levou milênios para crescer.

E o mar agora recua assombrado pelo poder da rocha.

E a rocha treme e mostra ao mar e aos céus, que também ribomba.

E o mar, em sua imensidão, sequer apaga o fogo de suas entranhas.

E parece revoltoso, bravio, mas está assustadoramente surpreso com a rocha.

E a rocha faz o mar saber que já estava ali antes de tudo. Antes do próprio mar.

Mas o mar é traiçoeiro e, agora mais sereno, se aproxima da rocha...

E se acalma e acaricia a rocha, como quem diz: - minha querida!

E a rocha, embevecida, se encanta com o carinho do mar... E se entrega a ele!

E não se apercebe que fica pequena, enquanto o mar cresce.

E cresce, e cresce, e, toma conta da rocha.

E a rocha, sem se aperceber, sucumbiu aos encantos do mar.

E o mar vence a batalha mais uma vez.

E os céus foram testemunhas da bela batalha. E ribombaram em festa!

Charles Lucevan Rodrigues
Enviado por Charles Lucevan Rodrigues em 21/06/2014
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