O Peregrino
Sou um peregrino nesse mundo. Caminho pelos campos, meu cobertor é a escuridão da noite e minha roupa é a luz do sol. O vento penteia meus cabelos e os rios me cantam uma canção antiga como o mundo. O som de uma flauta me chama, guio-me por suas notas. Um dia cheguei à beira do mar contemplei os fluxos da maré, fiquei anos ali, minha pele ficou queimada pelo calor do dia e pelo frio da noite, meus cabelos estão descoloridos, fiquei mais forte. O que é a dor se não um cinzel dando forma a nossos corações emperdenidos? Já amei, mas nunca fui amado, nem por esse amor do tipo Eros, esse que um homem sente por uma mulher e vice-versa, ainda não estamos prontos, mas um dia estaremos. Aprendo com as crianças, rio quando estou farto e choro quando sinto fome. A minha casa é o mundo, mas vivo longe dos outros homens, cultivo o fumo e vinhas, o cigarro e o vinho me deleitam, sou humano. Tenho um instrumento e quando perco o sono ou a noite é tão bela que sinto pena em não contemplá-la, toco suas cordas e adoro o Criador, minha alma só tem satisfação em Deus. Às vezes faço um banquete e vou para a estrada convidar os viajantes para ceiar comigo, ouço suas histórias e as escrevo num livro, minha vida também está sendo escrita num livro eterno e um dia será lido para mim, onde meus atos serão julgados por Aquele que tudo criou. Procuro um segredo e sei que só me será desvendado quando minha história findar, caminho na perspectiva da eternidade sem me prender a nada e nem a ninguém. Uma vez tive um colar de pérolas e uma pulseira de prata, o colar, dei-o a um mendigo e a pulseira a uma mulher que um dia desejei nenhum deles me agradeceu. Nunca esperei por gratidão, minha satisfação está no ato de doar. Não sou alegre e nem triste, vivo cada dia, de noite, tenho visões, meus sonhos são perspectivas da eternidade. Nunca volto pelos caminhos que passo, sigo as estações, o pulsar da vida, ela nunca retrocede. Não sinto saudades e nem almejo nada apenas sigo as notas da flauta, minha alma só encontra satisfação em Deus.