DIAGNÓSTICO

Repare, ela está sentada com muita postura e seus gestos não se misturam.

Seus olhos estão parados, deve estar pensando profundo, certamente está no fim do mundo

Não, seu olhar é bipolar, veja bem, sua voz apagou, nada fala. Seria sua voz aguda ou grave?

Fechou-se em seu mundo, sua reação é sem rumo, mas clássica. A todos ela ignora.

Seus cabelos estão despenteados e esguedelhados, acho que ela surtou.

O vestido parece amarrotado, deve ter dormido com ele todos esses dias.

Ela não pisca e seus olhos estão caídos e secos, lábios trincados.

Já disse, é bipolar. Não, não... creio que seja depressão.

Sou professor de psiquiatria e você meu aluno.

Estou dizendo... seu caso é transtorno bipolar, vamos interná-la.

Como se ela está sozinha nesse banco de praça?

Nem uma bolsa tem para checarmos a documentação.

Tem ao seu lado um cesto com grande quantidade de moedas.

Deve ser colecionadora.

Ligue para a ambulância vir buscá-la. Sim senhor!

Vamos dar a ela um coquetel de Ceroquel, Mitarzapina, Carbolitium e Valium 10 ml.

Acho que há de ser 20 ml. Dois comprimidos. Que seja ela está péssima.

Eis a ambulância, vamos carregá-la com cuidado para que não surte.

Ei, moço,... que está fazendo? - diz ela-

Não vai dar nenhuma moeda pelo meu trabalho?

Nossa, professor a voz dela é suave e macia!

Mas que trabalho garota?

Sou manequim de rua. Fico inerte para ganhar o meu dia.

Então você não está doente.

Não, doentes são os médicos que diagnosticam sem precisão.

A moça pegou suas moedas e saiu andando sorrindo num passo miúdo e equilibrado.

Por Lucia Borges em 23 de abril de 2014. Dia Internacional do Livro.

Lúcia Borges
Enviado por Lúcia Borges em 24/04/2014
Reeditado em 18/05/2016
Código do texto: T4781451
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