Sempre Cinco
Tem gente que quando está muito triste, chora.
Eu escrevo! Muitos escrevem.
Alegria ou tristeza; igualmente inspiram.
Basta existir emoção.
Escrever é recriar a realidade, fingindo senti-la;
ou de fato sentido.
Poesia eu não faço.
Motivos há em abundância.
Capacidade não.
Assim procuro outro caminho
e o encontro no “conto”.
Hoje estou triste.
Alguma história preciso contar para não chorar;
pois eu não choro. Eu escrevo.
Quando eu nasci, obviamente não sabia escrever.
Aí eu chorava. Se soubesse, escreveria.
Podem imaginar, eu solicitando o peito da minha mãe, por escrito?
Morreria de inanição. Talvez não!
Enquanto narro,
se preferirem, podem me imaginar chorando,
mas que fique claro:
eu não choro, apenas escrevo.
Eis o conto:
Um amigo agoniza...
A qualquer momento seremos apenas quatro.
Mas é assim que funciona:
dez hoje, nove amanhã, oito não se sabe quando. Zero é o limite.
Novas gerações já estão à postos.
Por enquanto, salvo alguns acidentes de percurso,
elas – as nova gerações – estão continuamente se adicionando.
Como fizemos nós, também, um dia.
A qualquer momento o telefone vai soar e seremos apenas quatro.
Maldito telefone! Tão moderno, cheio de funções,
mas incapaz de mudar o curso da vida.
Milhares de aplicativos e nenhum definitivo.
Um inútil!
Prefiro minhas versões antigas,
feitas com duas latas de massa de tomate,
ligadas por uma linha.
Nelas, pelo menos só dávamos boas notícias.
As más, se houvessem, eram de mentirinha.
A qualquer momento seremos apenas quatro.
Simples aritmética?
Antes fosse.
A qualquer momento seremos apenas quatro.
Pela internet me inteirei.
Quando soube eu “corri para o violão num lamento”.
Porque, antigamente quando eu não chorava nem escrevia... eu cantava.
Hoje faço os dois: Canto e conto;
mas não choro.
Quando eu nasci,
eu também não sabia cantar,
e chorava.
Chorei até ganhar um violão.
A qualquer momento seremos apenas quatro.
Hoje ainda somos seis – cinco mais o violão.
Mas será que o violão pode entrar na conta?
A qualquer momento seremos apenas quatro.
Eternamente desafinados,
faltará alguém para nos dar o tom.
A qualquer momento seremos apenas quatro.
É tarde.
Agora preciso tentar dormir.
Dormindo eu não escrevo e nem canto,
mas também não choro.
Enquanto durmo,
continuarei acreditando
que nunca deixaremos de ser cinco.