Um ser Livro...
Observo os Livros que repousam tranquilamente na minha estante e penso: quantas histórias ali guardadas, quantas vidas ali traçadas, quantas lágrimas ali derramadas. Quantos sonhos e quantos desejos ali escondidos. Quantas juras de amor. Quantas brigas de amor. Quantos beijos, quantos abraços, quantos sussurros, silenciosamente aprisionados.
Tantas histórias ali convivem lado a lado pacificamente. Entra dia, sai dia, e elas estão ali, trancadas, intactas, com seus, nem sempre, finais felizes. Aqueles que morreram nunca mais à vida, e aqueles que estão vivos, vivem ainda?
É só abrir e deixar que cada palavra cumpra a sua missão.
Histórias de guerra e de paz, histórias de amor e ódio, ali diante dos meus olhos, amparadas pelo aparador cansado com o peso de tantas existências.
Caim ainda não matou Abel. Macunaíma e o Gigante Venceslau Pietro dormem em paz todas as noites. Brancos, negros, pardos, amarelos, verdes e azuis compartilham a mesma paleta.
É o milagre das páginas encadernadas.
Observo-os mais atentamente e penso: serão tristes eles?
Devem ter desejado que suas páginas finais nunca fossem lidas, na vã esperança de que algum dia voltassem a querê-los e saber dos seus desenlaces.
Alguns se sobressaem por sua espessura ou por sua altura, mas nem isso os faz diferentes. Continuam ali imóveis. Continuam a esperar pacientemente que os notem.
Todos os dias, o dia todo.
São muitos, mas tão poucos ainda. Li todos e quase nenhum. Alguns ainda guardam o perfume do novo, outros já bem gastos, guardam o toque da minha mão. Cada um tem o porquê de estar ali. Cada um merece estar ali. Todos querem estar ali por mais dezenas de vidas e assistir inertes o surgir de cada dia.
Esperando pacientemente um toque de carinho de alguma mão disposta a lembrá-los, e espantar o amarelo que teima em pintá-los.
05/04/2014