Quando Criança

Quando criança costumavas colher folhas de árvores e jogar em cada rua que passavas, com o desejo de que quando não estivesses mais lá, aquelas folhas frágeis se transformariam em dinheiro e assim os pobres poderiam achá-las e colhê-las para si e comprar alimentos.

Quando criança tinhas raiva de assistir aos noticiários e reportagens que falassem de miséria nas famílias pobres esfomeadas, pois questionavas sem entender o porquê que os repórteres falavam tanto e não ajudavam aquelas famílias, não apresentando assim a solução de que eles tanto esperavam.

Quando criança não toleravas crianças “choronas”, que por serem mimadas achavam sempre um motivo para chorar. Hoje tu és a sensível “chorona” e dificilmente encontras pessoas iguais a ti.

Quando criança costumavas deitar-te numa calçada para observar o céu durante o dia. Imaginavas o azul infinito como um enorme oceano que a qualquer momento poderia desabar sobre tua cabeça e te afogarias.

Quando criança observavas a lua com todo seu brilho e sentias um misto de tristeza, mistério e medo, pois achavas a lua muito solitária e ao mesmo tempo misteriosa. Desejavas saber o que havia lá? Como a lua suportava ver todos os astros e estrelas em harmonia e comunicação e não poder compartilhar do mesmo? Que mistérios a rodeavam? E o que aconteceria se um ser humano ficasse preso lá para sempre?... Entre esses dilemas o tempo parava e ficavas observando a lua por muito tempo.

Quando criança achavas que ninguém no mundo pensava como tu, tampouco sentia as mesmas emoções e tinha os mesmos raciocínios. Era engraçado, pois te sentias como o único “ser pensante”.

Quando criança achavas que tuas angústias eram demasiadamente pesadas para uma criança; entendias a vida e sofrias demais para uma criança; eras engraçadamente esperta demais para uma criança; adoecias demais para uma criança; tinhas problemas demais para uma criança... Choravas demais para uma criança.

Quando criança formavas teus conceitos, tentavas entender o mundo e a ti mesma. Amavas a Deus sobre todas as coisas. Tinhas perspicácia e um pouco de persuasão. Eras precavida e temerosa como poucos. Tímida, introvertida, estudiosa, inteligente, cabelos de Rapunzel, olhos de jabuticaba... Eram as tuas características apontadas pelos que te rodeavam.

Hoje cresceste; Deus continua sendo o teu Senhor; e eis que tudo o que vivenciastes serviu para o teu amadurecimento e crescimento pessoal, intelectual, psicossocial e acima de tudo, espiritual.