No centro da vida
Estar só é sentir a ausência de todos. Até mesmo daqueles que esperam a noite para descansar de um dia. Um dia sempre cheio de atividades e obrigações que cansam o estoque de ânimo de qualquer ser. Porque ser alguém durante um dia inteiro é como não sair dos holofotes. Escolhemos estar no palco da vida porque queremos sobreviver à própria vida. E vamos sendo filmados pelos nossos olhos para contar a história que nos cabe. E os personagens que nos rodeiam não passam despercebidos de nossa lente. De modo que fazem parte do nosso show. Tudo se processa em nossa mente cena por cena formando uma vida onde ganhamos e perdemos os coadjuvantes de nossa existência. Vai-se o tempo nesse tempo e acumulamos experiência que não teremos tempo nem vigor para praticar. Enquanto vamos aprendendo a viver nos aproximamos sem treino algum do ponto final ou de uma vírgula que nos leva à próxima parte da frase. Ela se completa em algum lugar do tempo concluindo o que viemos fazer de fato. E tudo isso nos cansa tanto que usamos as noites todos os dias para dormir.
Um dia dormiremos num sono mais profundo, tão profundo que quem sabe abra as chaves de nossas incertezas e revele a verdadeira face do existir. Um dia a mais é também um dia a menos para sabermos o que é essa representação real da vida. Enchemo-nos de nossas cenas enquanto se avolumam nossas dúvidas diante de nossa insignificância ou de nossa desconhecida importância.
Cruzam-se as nossas histórias com as do próximo como num roteiro destinado às nossas próximas ações. Somos autores e diretores de nossa própria atuação. Mas sempre respondendo aos estímulos que nos dão o mundo que nos rodeia. E nesse mundo há cenas que não queremos contracenar por se pintarem num cenário escuro e frio. Mas estamos na cena real e ela nos exige uma reação por mais ridícula que consigamos ter.
Temos perdas incalculáveis para encarar e encaramos como se fosse fantasia para nos mantermos de pé. Quase não conseguimos dormir quando o que vemos acordados não passa de um pesadelo fora de hora. É como se descobrir preso nas circunstâncias que não temos controle. É como estar preso na atmosfera da Terra quando o que se quer é ter autonomia para voar para longe de tudo. Mas não há solução: estaremos sempre no centro de nossas vidas.