AUTO-ANÁLISE
Não, eu não sou forte o suficiente para aguentar e tudo isso não dá a mínima para mim. Sou tão pequeno e inconsequentemente tolo que chego a doer-me por dentro. As lágrimas me cortam a face feito navalhas, lapidam meu rosto, esculpem meu fracasso.
Sou reles, inutilmente reles e imóvel; volátilmente perdedor. A tristeza me preenche inteiramente, como um gás, desses mais comuns que ninguém nota. Sou o fogo que queima-me, sou a fé que não ousei ter e o sonho que, acordado, nunca pude sonhar.
Aqui, neste quarto, sacrifíco-me, afogo-me em um mar de ilusões e esgoto-me. Meu dia chegou e eu, filho da falha e do desespero, entrego-me a desgraça do destino que despejou em mim todo desdém do universo.
Despeço-me dos sonhos, do mundo e daqueles que nele nunca notaram minha presença e nem bem sentirão minha falta. Ah, dor tremenda que adentra meu peito e rasga minha alma e roe meu sonhos e cega minha boca e cala meus olhos...
Chegou a hora; a minha hora. Deveria partir, mas não tenho lugar definido pra chegar. O paraíso? Não sou bom para pertencê-lo. O inferno? Também não pequei tanto (a não ser pelas moedas que encontrei no chão e não procurei pelo dono, mesmo sabendo que certamente elas o tinham). Espero que meus olhos fechados não voltem a abrir, afinal, viver tem me matado aos poucos.