30 minutos de uma madrugada nostálgica

Agora é só silêncio.

Uma noite fria, solitária.

A laranjeira em flor emana um perfume cítrico delicioso.

Ao longe, o latido dos cachorros.

Debaixo da mangueira me sento, velhas alvenarias me servem de banco. Um grilinho pula perto dos meus pés e ali fica, cricricrando (incrível como essas figurinhas amam a minha presença).

Dentro de casa está um calor dos infernos, a brisa fresca da madrugada me convidou até o quintal. Caderno e lápis nas mãos. Sim, lápis. Não gosto de escrever à caneta. Um pensamento errado e não poderei voltar atrás.

Respiro fundo. Fecho os olhos e tento, por alguns segundos esquecer os mínimos ruídos que me cercam. À noite as coisas parecem tão diferentes...

Não consigo ordenar meus pensamentos. Divago, apenas, entre um anseio e outro... Meus desejos confundem-se com meus objetivos. Agora, um sapo vem saltitando em direção a mim... Vê o grilo; para. Ajeita o corpo e puff! Sua língua hábil, certeira, cata o pequeno cantor e engole-o. Triste fim... Risos...

Não dou mais importância ao sapo que agora desfila para mais longe. Está em busca de um novo prato para o seu desjejum noturno. Criaturinhas que a natureza pôs em minha casa e com as quais me deparo todos os dias.

Agora, grossos pingos de chuva tilintam sobre o telhado da garagem. Alguns escorrem por entre as folhas da mangueira e vem repousar nas folhas rabiscadas do meu caderno. A contragosto, me ergo. Me encosto na parede chapiscada da garagem e observo o chão lentamente mudar do tom cinza claro a mais escuro com a insistência da chuva. A brisa agora é mais fria...

Volto para dentro de casa, é o jeito. Antes de fechar a porta, observo a chuva que cai, serena, silenciosa. Ouço o coaxar de um sapo (talvez aquele guloso, devorador de pequenos cantores) que agora se alegra com a presença da água. Em mim, agora, uma profunda nostalgia. Enquanto cerro a porta, a paisagem poética some e eu, volto à realidade do calor insano dentro de casa...