ESCRAVA DAS PALAVRAS

ESCRAVA DAS PALAVRAS

Escravizam-me as palavras

Num fascínio sem proporção

Muitas vezes, maior que a própria dimensão...

Não sei de onde isso me vem

Colho-as como quem se encontra num vasto pomar,

Saboreando os frutos de cada estação

Ou quem sabe perde-se num deserto

No meio da solidão...

Ao atravessar esse deserto

Deparo-me com a ilusão

De que cada uma delas,

Quando profanadas,

Adentram-me como fagulhas

Aquecendo-me a alma...

Nessas andanças,

Não foram poucas as palavras que dilaceradas,

Outras muitas amadas,

Escreventes me fizeram vida...

Palavras de ordem,

Outras tantas de desordem...

Palavras, sempre as palavras!

As ditas, as não ditas,

As santas quem sabe,

As mal ditas,

As ouvidas,

Outras apenas sentidas...

As palavras doces,

As palavras sem vida.

Palavras soltas,

E tantas palavras esquecidas...

Palavras que me desconsertam

Quando em concertos me acertam.

Por meio das palavras ouço os tons de tantas vozes,

E quando mudas,

Amadora me deito seu gesto

Alinhavando as acaricias em meu corpo...

Tantas palavras doces, sorrateiras,

As palavras safadas desordeiras...

Palavras que não cabem em explicação.

Somente aprende a escutá-las quando se perde a razão...

Palavras!

Às vezes lúcidas,

Às vezes apaixonadas...

As palavras têm seu peso,

Como o amor que em surdina desequilibra a razão.

Palavras soltas trazem estragos,

Expondo-nos ao perigo,

Porem quando juntas constroem tanto abrigos...

Talvez seja a palavra o bem maior de toda uma civilização,

Quando por meio delas são tomadas tantas decisões.

Ah!

As palavras,

Coisa do tão feminino

Se, homem ou mulher,

Diante dela se desmancharam tantos castelos...

Um “sim” ou um “não” –

Não faz a diferença - quando as palavras são jogadas para fora da alma,

Desfila-se sobre terra

Os desejos do coração.