Virado à Moritz
Já não escrevo para ser compreendida, é perda de tempo, signos e significados correm soltos pelo papel e pela mente e é impossível uni-los com a precisão cirúrgica com que tentava escrever. Não há, por mais exata que seja, frase que não seja obliqua, obliqua e dissimulada, toda frase é uma criação conjunta de quem lê e de quem escreve.
E, se engana quem pensa que melhor é o escritor que evita as múltiplas interpretações de seu texto, muito pelo contrário, os melhores textos são aqueles que se deixam refletir mais o leitor que o autor, é aquele que se recria em cada olho que por ele passa, e faz de cada leitura um texto, novo, único e inevitável. O texto sincero é sempre um dialogo, o monologo é uma invenção artificial.
Por isso, peço-lhe perdão, meu caro amigo e fiel leitor, por ter tolido suas interpretações e ter tratado cruelmente cada um dos textos que pari como minha posse e não com o ser vivo que ele de fato é, por não ter percebido que tolher seus significados era censurar o novo autor que existe dentro da sua leitura. Mas curei-me, apaguei meu nome escrito no fim de cada poema e decreto, por meio dessa carta mal endereçada, que cada texto que escrevi com minha alma é mais que obra minha, é, acima de tudo, obra também sua.
O texto é um ser vivo