Trema a língua

Trema a língua

=============ErdoBastos

Falo contigo.

Parece que escolho uma língua morta pra dizer

o que penso, porque não pareces entender.

Ninguém parece entender o que digo.

Eu penso. Claro, me explico mal.

Falo com a alma o que digo de boca cheia.

Cheia de sonhos, cheia de tempo, cheia de vento.

Tenho a alma cheia de verdades e a boca cheia

de palavras que não dizem nada.

Minhas verdades vão se misturando, se

mistificando e expandindo os sentidos a tal

ponto que os perdem, desmaiam e não dizem

o que vieram dizer.

São palavras soltas ao vento as que dedico a ti.

Palavras que já ecoaram verdades pelos quatro

ventos, pelos sete mares, e agora se calam

presas numa profunda garganta, aberta no

paredão do litoral de pedras musgadas de

verde-cinzento onde são acossadas pelo mar

de silêncio.

Ondas salgadas dão as palavras gosto de

lágrimas.

E cada uma delas, calada em seu canto,

chora suas tristezas até que percam os sentidos.

Palavra inconsciente, palavra inconseqüente.

Não tema.

Inconseqüência -como bem sabes- é escrita

com trema.

Se não for assim, perde a fleuma.

Então sim, diante da palavra medo, em

qualquer língua que for dita inconseqüentemente,

trema.