A chegada dos anos...

Veio, implacável, como a vida que pousa nas mãos de uma borboleta desavisada, mas singela.

veio, como a chegada inesperada de um parente distante...de quem não mais se lembra, apesar de se saber da existência..

veio, implacável como a morte, porém menos dura..veio, a idade.

E os anos se contaram, um a um...diários..

sem que se pudesse perceber...

e da infante, se fez menina..

abandonando as saias rodadas e a barra das saias do pai,que a mãe era tão distante!

e de moça se fez amante,

mulher, ditosa...

olhar profundo..

paixão latente..

perigosa arma nas mãos daquela menininha..

moreninha rota, de olhos eternamente assustados e nostálgicos..

de lábrios carnudos...e brilhantes, à cor da noite.

A idade chegou, leve...

sorrateira, leve...

ditosa, leve...

implacável...dolorosa...

as formas se redesenharam..

era, agora, uma mulher...

sim, uma mulher que sequer sabia o que fazer com a menina guardada dentro de si...

que diria da nova imagem bordada no espelho?

Sentiu-se revigorar, diante dos tudos que se propunham...

sentiu-se saudosa dos antes e dos depois sonhados..

sentiu-se nua diante de si, embora muitas vezes tão nua diante dos homens..

e não tão nua assim..

sentiu-se pura, por querer amar...

sentiu vontade de amar-se, sentiu-se verme e princesa...

e sentiu-se velha..diante dos anos..

mas eram só..vinte e três anos, ainda tão pequenos diante dos próximos que se costuma viver...

e uma borboleta pousou-lhe nos dedos...

agora sabia...

sabia sim, sabia..

e lhe perguntaram?

...Mas quem é a Inês?!

Boa pergunta...

saber quem é si mesmo...

digamos que, resumidamente,

uma flor que pousa aos olhos da poesia!!

Fechou os olhos... e sorriu.