Teu cadáver que não me deixa em paz
Amanhã fazem seis meses que encontrei o seu corpo morto caído no chão daquele quarto imundo.
Ainda me dói como no minuto em que percebi: suas veias não pulsavam mais nenhum sangue.
Parece que a minha ficha ainda nem caiu. Fico com essa cara abobalhada e distante, esperando que seja tudo um mal entendido cabeludo.
Minha irmã se foi nos meus braços e ainda me culpo por não ter podido fazer nada, além de ficar inerte ali, com a minha cara estúpida de barco parado.
O seu rosto ainda me assombra pelas noites escuras afora, quando me aventuro pelas madrugadas desta cidade frígida.
Ainda choro seu fúnebre fim.
Como você foi capaz de me abandonar assim? Como foi capaz de machucar tanto este coração desmiolado, já tão maltratado?
Queria poder te tirar de dentro daquela cova, para voltarmos às nossas infâncias juvenis.
Mas assim como você, esse tempo já se foi.
Por isso apenas choro. Choro e continuo seguindo, sem nem saber pra onde.