A invasão da cidade
A invasão é total.
O cheiro frio da sombra desses prédios começa dominando as narinas. E quase arde nos olhos o toque dos faróis, esses neons, todas essas luzes bruxuleantes.
A língua então se aguça e sente o gosto do não familiar, o curioso tom gustativo das esquinas inéditas – e um saborzinho amargo fisga lá na garganta.
Engole-se a seco, um pouco só de receio. Debaixo das roupas a pele vibra com todo esse barulho nervoso e vivo, sons sem discrição.
Mas ouve-se, quase sem querer, feito sedução da inconsciência, o murmurar de todas essas vidas apressadas em passos curtos, próximos a uma música. É o hino da mais legítima indiferença, construída de horizontes de concreto e de céu cinza nublado, e que inevitavelmente se canta sem saber.