Um coração em meio ao tempo
Não sei como está o tempo lá fora... Não sei se hoje amanheceu frio, ou se faz calor, se está garoando, se neva... Que importa o frio, se, vestindo casacos eles não podem aquecer o coração? Que importa o sol se depois de exalar muito calor ele clama por uma forte chuva? Que importa a chuva?... Ao menos suas águas poderiam disfarçar as minhas que também descem... Que importa o gelo se tudo ao redor é também frio e vazio?
O tempo não faz diferença a um coração já insensível. Ah! Se o vento pudesse levar embora todos os maus sentimentos. Ah! Se os raios do sol alcançassem um coração também solitário... Na sua grandeza ele é limitado. Ah! Se a neve contemplasse as feridas que nunca puderam ser tratadas. Ah! Se a chuva lavasse todas aquelas sujeirinhas do dia-a-dia que ficam impregnadas na alma, são essas chamadas de aborrecimentos.
Olha! Lá está a tempestade chegando. Com sua fúria e o seu escândalo, grita e maldiz não sei o quê. Ela trouxe um redemoinho que suga o que consegue. Ela está assustando a criança que chora e pede o colo da mãe... Até o maior dos seres humanos teme e se abriga desesperadamente. Ela não arrancou nada dos corações.
Tudo volta a se acalmar agora... A tempestade já passou. O silêncio volta a reinar nos céus que, pouco a pouco, vai clareando. De longe pode se ouvir o canto tímido de um passarinho... Ele não sabe se já deve cantar, porque teme que a tempestade volte. Mas ele canta, porque sabe que o silêncio reinará por mais tempo.