Entra, Zé. Deixa eu te contar.

Então foi isso, Zé. O sonho acabou. E eu que fiquei aqui até o fim. Esperei, sonhei, tentei, sofri. E eu que estive aqui. Fiquei, lutei o quanto pude, tornei-me rude e ainda assim vi chegar o fim. Foi isso, Zé. Por favor, não me leve a mal, eu não sou cara de pau, longe disso. Mesmo agora, chorando as mágoas pro porteiro, como se fosse rotineiro, como se fosse adiantar. Que é isso, Zé? Não é obrigação sua me ajudar. Trouxe minhas compras de gaiato, eu disse que eu pagava o pato, mas você insistiu por carregar. Pois é, Zé. Ele foi embora, jogou nossas lembranças fora e não me deu nem tempo pra assimilar. Zé, mas eu preciso te contar. A casa tá suja, mas a alma tá lavada. Quebrei pratos na parede como se fossem os miolos dele. Cuspi no chão como se fosse a face dele. Esmurrei a parede como se estivesse quebrando o seu nariz. Ah Zé, essas minhas lágrimas e esse meu punho machucado não podem te enganar. Sou louca, Zé. Sou desse tipo de gente que chora de tristeza por ter acabado o que nunca quis começar.

A B Queiroz
Enviado por A B Queiroz em 31/12/2012
Reeditado em 31/12/2012
Código do texto: T4060937
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