Conforto Póstumo da Alma

Queria ter feito chover

Gotas de tranquilidade e honestidade

Quando o suor exalado pelo esforço de ignorar

Berrasse ao fim do expediente em meus ouvidos

Entupidos de mediocridades

Para que minhas verdadeiras verdades

Voltasse corajosamente a escutar

Queria ter levantado no momento inoportuno e negado

Pra lembrar de como sou em pé.

E deitado no seio macio da simplicidade

Quando o peso das idéias interrompidas

Calou-se no cansaço do peito cheio do ar

Superficial de algumas complexidades.

Queria ter me expressado de maneira espontânea a quem interessasse

No momento exato em que me ocorreram coisas,

Ora voláteis, ora constantes,

Mas úteis à sede do instante.

Queria ter corrido o risco de expor a pele ao Sol,

Ter tido a oportunidade de usar o filtro solar fator 50

Trancado no baú de coisas essenciais.

Queria ter produzido mais e reproduzido menos.

Queria ter deixado os ponteiros desavisados

à conquista da casualidade.

Queria ter levado tudo que pudesse carregar, mas sem me cansar

Queria que as coisas importantes tivessem sido padronizadas

Queria que o fim estivesse no início,

Pra pesar novamente a medida das coisas mais pesadas

Perceber que a balança estava errada

E enterrar num relicário

As lacunas improváveis do mau,

Que as circustâncias e más escolhas

Fizeram sobreviver em mim.

&*

Elis Maria
Enviado por Elis Maria em 22/12/2012
Reeditado em 22/12/2012
Código do texto: T4048747
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