Conforto Póstumo da Alma
Queria ter feito chover
Gotas de tranquilidade e honestidade
Quando o suor exalado pelo esforço de ignorar
Berrasse ao fim do expediente em meus ouvidos
Entupidos de mediocridades
Para que minhas verdadeiras verdades
Voltasse corajosamente a escutar
Queria ter levantado no momento inoportuno e negado
Pra lembrar de como sou em pé.
E deitado no seio macio da simplicidade
Quando o peso das idéias interrompidas
Calou-se no cansaço do peito cheio do ar
Superficial de algumas complexidades.
Queria ter me expressado de maneira espontânea a quem interessasse
No momento exato em que me ocorreram coisas,
Ora voláteis, ora constantes,
Mas úteis à sede do instante.
Queria ter corrido o risco de expor a pele ao Sol,
Ter tido a oportunidade de usar o filtro solar fator 50
Trancado no baú de coisas essenciais.
Queria ter produzido mais e reproduzido menos.
Queria ter deixado os ponteiros desavisados
à conquista da casualidade.
Queria ter levado tudo que pudesse carregar, mas sem me cansar
Queria que as coisas importantes tivessem sido padronizadas
Queria que o fim estivesse no início,
Pra pesar novamente a medida das coisas mais pesadas
Perceber que a balança estava errada
E enterrar num relicário
As lacunas improváveis do mau,
Que as circustâncias e más escolhas
Fizeram sobreviver em mim.
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