Branco

Era branco e nem me lembro o porquê.

Era branco

não mais que uma folha de papel qualquer, era apenas branco

nao me enchia o peito de paz

nem me fazia pensar nas coisas boas que eu nunca fiz

pra bem dizer não me alterava de forma alguma

significava tão pouco em sua alvisse muda que deixei-lhe uma marca

um garrancho inexpressivo

uma espécie muda de suspiro

mas também não era poético

deixei-lhe foi um esporro

um arranhão

uma mancha

O borrão era negro

não mais que as penas de qualquer pássaro preto, era apenas negro

também não me enchia o peito de raiva

nem fazia pensar em tudo aquilo que eu deveria sentir vergonha

pra bem dizer pouco chamava a atenção ao ferir a alvura

gritava tão baixo em seu pretume que deixei que escorresse por toda a folha

um risco apático

uma espécie rouca de gemido

além do mais nem era poesia

era desabafo

coisa chata de se ler num papel branco.