Tradução de “La Paresse" de Henri Michaux
Essa é minha versão de tradução do texto francês de Michaux, ou seja, não é um texto de minha autoria.
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A alma adora nadar.
Para nadar ela se estica no ventre. A alma se desprende e vai. Se vai em nado. (se a sua alma se vai quando você está de pé, ou sentado, com os joelhos apoiados, ou os cotovelos, em cada posição corporal diferente a alma partirá com um ritmo e de uma forma diferente, coisa que vou demonstrar mais tarde)
Fala-se muito de voar. Não é isso. O que ela faz é nadar. E ela nada como as serpentes e as enguias, jamais diferente.
Muitas pessoas tem também uma alma que adora nadar. As chamamos vulgarmente de preguiçosas. Quando a alma deixa o corpo pelo ventre para nadar, acontece uma tamanha liberação de não sei o que, é um abandono, um prazer, um relaxamento tão íntimo.
A alma se vai nadando pelas escadarias ou pelas ruas de acordo com a timidez ou a audácia do homem, porque todos os dias ela guarda um fio de si para ele, e se esse fio se rompesse (ele às vezes é bastante tênue, mas é preciso uma força considerável para rompê-lo) seria terrível para ambos (para ele e para ela).
Quando então ela se encontra ocupada, a nadar para longe, por esse simples fio que liga o homem à alma se enchem volumes e volumes de uma espécie de matéria espiritual, como lama, como mercúrio, ou como uma fumaça – prazer sem fim.
É por isso que o preguiçoso é incorrigível. Ele não mudará jamais. É por isso também que a preguiça é a mãe de todos os vícios. Porque o que é mais egoísta que a preguiça?
Ela tem razões que o orgulho não tem.
Mas as pessoas se indignam com os preguiçosos.
Enquanto eles estão descansando elas os atingem, jogam água fria em suas cabeça e eles tem que recolher forçosamente suas almas. Eles as olham, então, com aquele olhar de cólera que todos conhecem bem, e que se vê principalmente em crianças.