desses olhos...
Já não me servem os olhos de outrora. Carrego hoje, outros, outros a esfarelaram-se em terreno pedregoso. A verterem da pele de suas meninas a lágrima do agora.
Não há mais rosa no arco-íris das mãos, não há rosas no jardim. Não há sequer a névoa a cobrir de mistérios as noites e os dias.
Num mar que desconheço há o grito a ser escrito, há o medo do vazio. Vazio tão farto de desprezo. Há o espinho entalado cada vez mais fundo a ser cuspido pela vida.
E se não fosse vida, seria só um naco de carne a ser enterrado...
Já não me servem o verde, o branco, o vestido, os sapatos, as palavras, sequer essa face ainda em uso, tudo, tudo de outrora... Pés em erro, caminhos a esmo. E essa ironia que me devora.
Se não fosse o destino pai dos infortúnios, seria ele irmão do gelo, primo do descaso. Ou quem sabe seria os joelhos deteriorados do tempo. A doerem e doerem sem escolhas a carregarem nas costas todas as orações, preces, ladainhas sem respostas, hora à hora.
Já não tenho os olhos de outrora, não reconheço no espelho o reflexo que me engole. Não... Não é a idade, não é a carne que escorre, é tão somente vida e vida, tantas e tantas em uma só semente. Não reconheço e debocho da imagem refletida em meus olhos.
Olhos, esses, os meus que em mim moram, caminham, escavam, ferem, defloram e sangram uma à uma as faces de minha alma...