Lisbela e a Comichão

Lisbela andava ansiosa.
Não sabia conter uma comichão que crescia dia após dia.
A mãe, senhora tagarela de muitas falas geradas mais na imaginação que na cartilha, logo notou. Mau olhado, falou com convicção.
A tia, frequentadora assídua da janela e do portão, discutia com toda a vizinhança, era coisa do tinhoso. Não havia dúvida.
Lisbela só sorria.
Era coceira o dia inteiro, de manhã até dormir. Nos sonhos, então nem se fala, a comichão crescia à vontade. A camisola encharcada de manhã, era prova que Lisbela lutava e se debatia.
Coitadinha. Como sofria!
Foi chamado o boticário, banho de ervas, por certo. De nada adiantou.
Aí veio o padre, a benzedeira, até o veterinário com um frasco que era tiro e queda. Mas nada aconteceu. A comichão só aumentava.
Lisbela, por certo, estava amaldiçoada. Todos comentavam. Não tinha explicação.
Lisbela por outro lado, nada dizia. Olhava com ar molenga o mato verde que crescia além da janela. Suspirava lânguida com a tarde morna que findava.
À noite outro sonho, moço bonito estaria nele. Nova comichão.
Lisbela estava feliz, talvez um pouco com fome, porque às vezes era só sonho. Às vezes não era.
No dia seguinte mais reza e discussão.
O que esta menina tem, gente do céu?
Comichão tinha outro nome.
Lisbela sabia e com o sorriso de meia lua, suspirava saciada e nem ligava para tanta preocupação.






Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 02/07/2012
Reeditado em 02/07/2012
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