Espera...
Desabotoar a carne, abrir a pele que arde, arde e seca nessa espera que teus olhos já não mais desfolha e eu, eu estirada vivo.
Quando teus gestos fingem teus cílios degladiarem-se em desejos, sinto, que mentes, mentem tuas pálpebras, mentem teus ouvidos que a mim não pressentem e mentem meus gêmidos te tocar. Mente, mentem, mente. Há um universo entre as névoas da tua morte e as névoas de minha sorte. Nem dados ou moedas, minha sorte foi lançada e traçada entre os ferros da tua lápide. Não me toca, não me vê. Mas me sabe da tua face, não esquecer...
Cuspida ao chão, nem mais um botão surpreende-me. Todos deflorados, todos lentamente descamados. Pétalas, uma à uma em células de tristeza besuntadas.
Nua, sem trancas, sem barrancos, sem piso, sem sorrisos, nem flores ou fogos de artifício. Só... Distância... Vazio...
Vivo, já disse, vivo!
E quando novamente os ponteiros do relógio, aquele, tão certeiro, lembrar-me do nosso compromisso... Enquanto vestir tuas luvas negras, as mesmas, sempre as mesmas no ritual do expurgo, meu descaso será teu castigo. Bem saberei eu, que a dor maior será minha, saberei como já o soube que ao fitar as horas no silêncio de nossos lábios, teus passos anunciarão um até breve que nunca chega, nunca vem, nunca esqueço. Enquanto te espero, escrevo, ainda que não leia, escrevo, escrevo, escrevo, espero...