Garota do vestido branco

Meu coração esta batendo forte. Eu posso ouvi-lo nitidamente formando um compasso com os meus passos enquanto eu caminho na rua no meio da noite. A rua esta cheia de perigos. Tantos que eu olho para os lados e posso ver coisas que me assustam me encarando. Não sei se devo continuar andando como estou fazendo, correr ou encarar de volta. Tudo parece apenas um pesadelo maldito. Mas eu caminho tentando ser discreta.

Eu sou apenas uma garota vulnerável, que esta assustada demais para admitir, ignorar, correr ou encarar? Não consigo chegar a uma decisão, uma resposta, minha cabeça dói, estou tonta. Eu simplesmente caminho exibindo o meu vestido branco imaculado, procurando não chamar a atenção. Encolhendo os braços, me escondendo. Olhando para baixo ora para cima pedindo a deus um sinal do que fazer ou uma ajuda.

Até que alguém enquanto eu estou passando joga algo sobre o mim, me manchando. Tento tirar o máximo daquela gosma de cima de mim, mas não parando a nenhum momento. Fico mais assustada que chega a ser nítido a minha expressão de terror. Pois no final não sei do que eles são capazes de fazer. Eu quero correr, mas temo que corram atrás de mim e eu não tenha fôlego suficiente para conseguir.

Eu sou fraca e sei que vou falhar. Isso é um pesadelo? Arranho-me procurando a dor e respostas que são tão assustadoras quanto o meu momento. Meu corpo esta entorpecido demais, mas eu mesmo assim senti um pouco de dor. Dor? Então significa que estou mais acordada do que eu imaginava. O que jogaram em cima de mim? Eles estão em todo lugar, eles não param de aparecer. O que eles querem de mim?

Não consigo esconder, nem ao menos parecer ser forte e as lágrimas começam a surgir em minha face. Elas escorrem tão rápidas, quanto meus passos desesperados. Sinto um pouco de alívio ao chorar e até imagino que se eu parecer cada vez mais vulnerável eles desistam de fazer alguma maldade comigo. Estou tendo o pensamento certo?

O que devo fazer? Eles estão em todo lugar me olhando, me julgando, me analisando, esperando até que seja a hora de me ferir. Droga! Agora ouço passos se somando com os meus formando uma batida diferente e ainda mais angustiante. Vou correr! E assim faço e saio correndo cada vez mais rápido, algo dentro de mim se alegra por segundos, me sinto quase livre. Mas quando me olho de novo eu vejo o quanto idiota eu estou sendo.

Agora eu estou mostrando por completo o meu medo! Agora ele me persegue mais rápido, eu não tenho muitas chances. Mas continuo segurando ao máximo! Um dos meus sapatos quebra o salto e eu o tiro jogando no meu perseguidor. Não parece ser suficiente. Meu deus, como ele é forte, não tenho a mínima chance. Mas vou continuar correndo! Meus pés começam a ficar machucados devido ao asfalto e o atrito com este. Eu estou sendo mais forte do que eu sou.

Começa a chover, uma chuva forte que deixa mais densa o clima daquela noite. O asfalto fica molhado em questão de segundos como eu e o meu vestido. Deixando assim a mostra o meu corpo e as minhas formas. O sangue dos meus pés se mistura agora com a água, o asfalto e a poeira deste que agora vira lama. Esta cada vez mais difícil de correr e eu caio.

Porque eu não me entrego logo e acabo com esse sofrimento!? NÃO! É isso que ele quer, é isso que eles querem. Querem a garota fraca se machucando, implorando socorro e que não faça alguma coisa com ela. Sentem prazer nisso e se deleitam.

Eu não quero ser apenas a garota fraca. Que anda exibindo a sua pureza esperando que todos gostem de mim por ser assim. Por ser o que todos acham que as garotas são ou devem ser. Eu sei que meus pés estão machucados, que meu fôlego esta acabando que ele logo me alcançara e eu estou jogada aqui no chão.

Eu sei disso tudo, então eu posso me preparar. Surpreendo-me com o que eu acabei de pensar e me levanto. Cale-se maldito medo! Eu não quero ter mais medo, eu não quero mais me sentir fraca. Eu não quero ser mais perseguida! E assim eu fico ali parada e aproveitando o que eu tinha de espaço nos separando, eu uso esse pequeno intervalo para respirar. Enquanto isso também a raiva me possui. Meu corpo não é mais meu, é agora da raiva.

O que eu tenho contra ele? Eu tenho uma boca que pode morder ferozmente, unhas tão afiadas e longas quanto de um animal selvagem, eu tenho as minhas mãos macias dispostas a se calejarem para verem o meu oponente ferido por menor que seja o ferimento. Estou parada porque estou cansada de correr, de temer e quero que tudo acabe indiferente do que seja o final.

Hoje eu venci os meus medos, hoje eu os encarei. Não são tantos medos, mas eram suficientes para me fazer agir como apenas a garota do vestido branco. Hoje eu renasci, me transformei. Continuo sendo uma garota e meu vestido não é mais branco. É transparente, molhado, pesado, enlameado, sujo, ensanguentado, talvez do jeito que deveria ser.

Isa Sins
Enviado por Isa Sins em 27/05/2012
Código do texto: T3690094
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