IMPRESSÃO

E eu o vi usando um blazer quase cor de pele, dando sorrisos simultâneos para chamar a minha atenção, me olhando pelas beiradas e entrelinhas, se achando o máximo. Fiquei estático sem qualquer reação, afinal... Não tinha o que dizer então eu o cumprimentei educadamente como de costume e saí rapidamente do ambiente... O som estava altíssimo – Não que eu não goste de música, muito pelo contrário, mas não era adequado para o meu momento.

Aí eu subi para o outro ambiente da casa noturna e gastei minhas economias em drinks e mais drinks. Eu não conseguia parar de pensar no maldito blazer, nas malditas gargalhadas, na maldita cara de desentendido dele quando me viu e eu com o coração batendo e batendo com tanta força que parecia que ia sair pela boca. – Aí, sou tão bobo! Fiquei horas sozinho pensando se voltava ou não... Então quando tomei coragem e desci aqueles degraus da escada caracol e fui correndo para a pista externa... Ele não estava mais lá, fiquei procurando por toda a noite e nem sinal dele... Eu não ia perguntar para os amigos, na verdade eu nem estava acreditando que realmente estava fazendo aquilo, ele foi o responsável por tudo o que aconteceu comigo. Responsável por eu me sentir a pior pessoa do mundo, responsável por fazer eu nunca mais sorrir sem me lembrar de daquilo.

Dizem que o álcool nos deixa: sem vergonha, corajosos, aventureiros, destemidos, verdadeiros... Olha, infelizmente tenho que concordar com tudo isso. Foi o que eu me tornei naquela noite.

Embora eu já tivesse apagado todos os números das minhas agendas, o número dele eu sempre soube de cor.

Então resolvi ligar... Liguei. Ele atendeu:

-Alô.

_ Oi, Sou eu o Lucas, tô te ligando pra conversar, a gente tem muito que conversar, ainda sinto coisas por você, mesmo depois desses anos.

_- Olha Lucas, Acho que nós não temos mais nada o que falar. Já está tudo esclarecido, todos os pingos estão nos is, e eu estou estabilizado.

- Eu entendo me desculpa! Não irei mais te incomodar, passar bem!

Quando desliguei o telefone chorei de raiva, vergonha, ódio puro, humilhação... Como eu pude fazer uma coisa dessas comigo mesmo? Humilhar-me mais uma vez para alguém que tanto me fez mal, me fez parar de ser gente. Fez-me ser como bicho. – Olha, eu não sei. Juro que não sei.

Às vezes sentimentos ocultos batem nas portas do nosso coração. Quem tem o hábito de ser hospitaleiro acaba se machucando sempre. Ele me fez perder todos os meus hábitos, por causa dele ainda estou descobrindo quem eu sou. Perdi-me tentando encontrar a perfeição que sempre existiu em mim, mas que poucos reconhecem. O meu valor é tamanho que passa despercebido a olho nu.

Existem fatos em mim que não se vê na luz, mas sim nos dias sem luz. Sou o raio de luz vivo! Puro! Indolor! Incolor!

Sou como a imensidão do oceano, como a vitória dos campeões. Forte, destemido. Eu sei das minhas qualidades individuais, mas eu ainda não aprendi a fórmula do amor... Queria que alguém me ensinasse, não sou muito bom em química, mas eu juro que seria um aluno aplicadíssimo. Estou é desesperado. Não por carência, pois pra isso tenho os meus meios de resolver, mas sim de me entender, de saber se alguém me entenderia... Se não me entenderem também não faz mal, desde que me respeitem está ótimo.

Olha, eu tenho tentado muito, tentando mesmo pra valer, mas está difícil, acho que não tenho o dom de persuadir e envolver pessoas.

Eu fico horas e horas tendo a paciência do mundo com as pessoas, eu ouço tudo com atenção, depois as luzes se apagam e não resta ninguém para me ouvir.

A impressão é que não existe algo interessante que eu posso oferecer para ninguém. A impressão é ruim. Espero ser só impressão.

Lucas Guilherme Pintto
Enviado por Lucas Guilherme Pintto em 19/05/2012
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