Sem Futuro
Estagnado no espaço presente com um eco sussurrando a insignificância; permaneço firme no introspectivo sentimento neutro.
Força antagônica alguma me impelirá com veemência ao enleio!
Deveras que o futuro próximo, tangível ao olhar tenso, é a revelação da depauperação microscópica já pressagiada.
Impassível na decrepitude da vida haverei de me portar!
Evitarei o ciclo de dores alheias no confinamento secreto da minha tortura biológica. Os mais próximos serão ludibriados pelo sarcasmo; os desconhecidos sentirão o odor mefítico através de seus similares definhamentos, mas sem poder revelar tal estado arcano.
Contudo não somarei lágrimas espúrias!
Aprendi a chorar na contemplação desinteressada sem derramá-las para fora do corpo pútrido que se arrasta na rotina nefasta.
O sofrimento vilipendiado de outrora – porém ubíquo – me fez absurdamente insensível; dever-se-ia erigir um monumento para exaltar o Pesar mais remoto e com isso relegá-lo como um simples vislumbre longínquo. À insensibilidade acompanhar-se-á desde então o esquecimento do passado juvenil e as ardorosas promessas quebradas.
Relegar ao remoto momento da vida tudo o que agride e machuca através do estado puro da alma sem perspectivas.
Prolongando-me no indecifrável plano terreno, repudiando o que vivi, o que sou, apenas visualizando o movimento seguinte da cadeia existencial como uma repetição permanente de imagens confusas.
Sabendo que o que virá não será diferente daquilo que já foi pressentido acerca do futuro idealmente consumado, permaneço neutro na indiferença.