VELHA INFÂNCIA
Luquinhas. Era esse meu apelido quando eu pensava que poderia ser tudo o que eu sonhasse ser.
Toda noite antes de dormir eu abraçava meu ursinho de pelúcia e imaginava que não estava sozinho no meu quarto e no meu mundo. Tinha vários amigos imaginários... Na verdade eu sei que eles não eram nada imaginários, ainda vejo alguns até hoje.
Eu gostava de colocar meias para não sentir o gelo nos pés, eu nunca gostei do gelado, sempre gostei do quente, do fervendo.
Quando criança, eu também sempre tive hábitos alimentares diferentes, eu gostava de pimenta... Sempre gostei de coisas ardidas, sempre me deram emoção.
Depois começaram a me chamar de Guilherme, no começo eu não gostava muito, sempre preferi o Lucas, mas como era o meu segundo nome tudo bem vai!
Sendo chamado de Guilherme, amei pela primeira vez, vivi um sonho pela primeira vez... Depois de um tempo acordei do sonho e vi que era um pesadelo. Aí entrei em outra fase de amadurecimento e adicionei o Pinto, meu sobrenome materno, meu sobrenome engraçado, motivo de vergonha na escola, mas que hoje me orgulha tanto. Agora eu me encontro em um momento estranho que não sei me identificar, estou deixando as portas abertas e agora estou sem meias, não estou me importando em sentir o gelo, descobri que ele também queima se ficar por muito tempo... E como eu gosto do quente, não está fazendo muita diferença. O céu está limpo, o sol está lá fora, mas aqui dentro, bem aqui dentro ele não chega.
Se eu tentasse mudar, acho que não conseguiria, eu sou bobo, nunca tive muito controle das coisas, eu sempre coloquei meu coração mole na frente, coloquei os pés pelas mãos, as pessoas sempre me dizem adeus mais cedo. A cada dia, hora, minuto, segundo que se passa, eu tenho certeza que o ser humano é sozinho, ou pelo menos eu. Sempre fui sozinho. Nas minhas expectativas, na minha cama, no meu quarto, nas minhas caminhadas escondidas no meio da noite tentando encontrar algo que não seja os meninos de rua.
Estou mantendo a calma e me concentrando em coisas mais sensatas, menos insanas, mais proveitosas, douradoras e menos fictícias.
Estou em busca de felicidade e falo com toda esperança e força do mundo: -EU NÃO VOU DESISTIR!