RELATOS DA LUA NUM DIA DE MORTE

RELATOS DA LUA NUM DIA DE MORTE

Naquela noite, quando há muito já deitara o sol pelo ocaso, tornara à terra, numa misteriosa e refrescante brisa de final de outubro, o silencio crepuscular. Tão venerado por muitos e esquecido por outrem. Pois, havendo no mundo tamanhos prazeres visíveis dispostos aos deleites da carne. Já não lhes tomam os sentidos, os mistérios que cercam o mundo e cantam no calar da terra.

Alguns sábios pressentem algo tão grande e perto a acontecer. Estes, apenas se calam diante dos enigmas do universo. Pois, acerca do que há nada podem ver. E, tão inerente aos seres pensantes, chamar de mito o que não vêem os olhos, e sabendo disso os grandes, apenas contemplam silenciosamente o pavor que lhes tange a pele. Por vezes, quase como algo físico. Causando-lhes arrepios! Contudo, sobre isso, alguns não almejam compreender. Pois, trazem no íntimo a crença de que intelectuar é, por vezes, fugir ao entendimento. Como se , pensando, estivessem eles buscando uma explicação empírica acerca do que é metafísico.

Mas, a quem a este mundo não pertence, como dádiva, foi dado-lhe o dom de falar acerca dos mistérios que se passam nessa noite. Eis, o que segue adiante na historia. Tão naturais quanto o sol, ou a água, o dia, ou o nada. Tão naturais, porém, ocultas ao mundo em partes. No entanto, para falar do que não pode ser dito em linguagem terrena, (por fugir aos limites da grandeza humana), façamos em poesia o que a prosa não entenda.

E a quem ler... contemple... Mas, acredite se quiser...

Silenciosa noite de uma escura primavera

Ao norte, tudo verde na penumbra.

Há terror em cada canto da terra

São rumores que os confins ostentam uma guerra.

Os olhos, que fitavam o horizonte distraídos

Não viram quando a lua ficara amarela.

Um uivar ao longe traz ao mundo pavor

Põe-se em fuga a alcatéia

Pois, fogem as quimeras da terra

Que os caninos solfejam em terror.

Em meio ao chão, grande fenda surge

Saltam garras que tiritam grilhões

Que os prende, que o inferno pune

Que o domínio já soma em trilhões.

Já não há mais boa sorte

Infeliz quem a tivera

E venha agora se servir

Da desventura n’outra esfera.

Eis o móbil do mistério

Que torna ao vento a direção

Um alado ser gigante

Rompe a vôo o vento leste

Dando ao ponente menção.

E a tudo isso não vêem os olhos...

Pra quem é vivo, algo mais possa entender

Foi numa estrada, um acidente a acontecer.

Pobre alma desfalece

E antes que pro alto sobe

Os grilhões se lhe padecem

E se não a luz lhe acode

Colhe a sina que lhe dessem.

Nessa noite a luz tardou

E outra alma pereceu

Por um tris não se salvou

Pobre deste que morreu!

A razão deste inditoso

Começara uma guerra no mundo

Resgate a sombra fez tardar

Pois, em Sodoma os anjos temem pisar.

Infortúnio é andar nessa terra...

Que vos tranca qual cinza em paiol

E não há vento que a leva!

Quem conta jamais vos mente...

Quem vos fala é a lua

E acreditem...

Presenciei amargamente

E nessa noite, se brilhei tão belamente

Então,chorei lágrimas de sol.

NOTA: Este texto foi inspirado em um acontecimento real. Foi um acidente de carro em que toda uma família morreu, na BR 381- Nova Era-MG. Todo o conteúdo restante é fruto da imaginação do autor. Pois se é tão interessante imaginar como seria depois da morte... é o que faz-se através desse texto.

lançarott
Enviado por lançarott em 01/02/2007
Reeditado em 14/05/2009
Código do texto: T365616