A Beleza Insana de Nosso Amor
Nós meu amor nos encontramos nesse manicômio que é esse mundo. Tua loucura possuía um esplendor distinto, uma harmonia de bulhas que magnetizava meus olhos. Sentamos em banco de madeira esverdeado. As trovoadas no céu pareciam os sinos de uma igreja sobre nossas cabeças, prenunciando que a chuva estava porvir. Toda a gritaria do mundo não nos inquietava, pois nossos olhos veneravam o que pulsava dentro de nossas almas, e embora não sabíamos o que era naquele momento, sentíamos que era um sentimento airoso, um sentimento tão abastado de graça e de verdade, que nossas mãos logo se abraçaram.
Tantas vezes enterramos partes de nós em lugares tão profundos dentro de nossa alma e de nossa mente que esquecemos o que havia lá, os porquês de os enterrarmos, e até mesmo onde nós enterramos dentro de nosso ser o que achamos precisar esconder, ou preservar, ou guardar das pessoas tais partes veladas aos que estão perto de nós. Principalmente quando o caos é o pai da harmonia, por tanto sem enfrentar o caos, e até inseri-lo dentro da própria alma, jamais poderá se encontrar a autêntica harmonia de estar de frente consigo mesmo, e saber confrontar e conviver com os anjos e demônios que formam a nossa natureza humana. Retiramos os véus com havíamos nos trajado para conviver com as pessoas nesse circo de palhaços moribundos que é a sociedade. Como é raro retirar algo que, durante tanto tempo, utilizamos tão bem a máscara com que antes havíamos nos vestido, e ao despoja-la ou abdicar dela tornaria o ser humano em um fantasma sem rosto, sem corpo, sem identidade, sem alma.
Todavia, ao revelarmos toda a nossa insanidade, e as ilhas cheias de ideias e emoções onde havíamos ocultado tantos segredos de nossa alma, passamos a nos amar mais intensamente, sem hipérboles, sem receios, sem idealizações.
Nossa loucura, antes em dois corpos separados, era agora uma só loucura, e essa insanidade era tão cheia de amor, e de autenticidade, que não temíamos mais nada: tu me confessaste teus crimes, e eu depus todos os meus pecados nos altares de tua mão e de teu rosto_ estávamos ali, naquele instante e para sempre, justificados de tudo e de todos. Teu corpo é agora o templo de todo o meu ser; Teu ser é o alento de todos os caos harmônicos da minha alma.
E quando finalmente a chuva desabou em nossos corpos, e todos fugiram para a segurança de seus lares, nós permanecíamos juntos, num paz que inebriava todos os tufões de nossas almas, enquanto nossos lábios permaneciam atados pela transcendência de nosso amor.
Gilliard Alves Rodrigues