UMA PROSA BUCÓLIA E ROMÂNTICA DE SONHOS.

 

27/01/07

 

 

Senhora Mendonça:

 

 

Esta prosa era para ser dialogada, pois ela se veste com as roupas de uma suposta écloga.

Entretanto, como eu me encontro só e ensimesmado, vou escrevê-la assim mesmo para que ela fique sabendo que os meus olhos já estão verdes de saudades.

A tristeza me envolve, aliás, sempre fico triste com a partida de alguém e, agora mais do que nunca, quando tu partes, algo em mim se parte.

Mas, ao mesmo tempo fico feliz e um pouco contente, pois quando tu partes assim, eu sei que assim tu serás mais feliz por alguns dias.

Nesses dias de frouxidão correrás lépida e graciosa pelos montes, pelas furnas e pelos regatos sinuosos e sombreados.

Assim, tu brincarás livre e absorta com as flores, com os pássaros e com as borboletas que esvoaçam ao teu redor.

Esses leques multicoloridos que batem asas num ritmo descompassado entre as flores, e que se assustam em revoadas imprecisas com o teu passar, eles, esses leques alados, te propiciarão uma terapia holística que fará bem a tua alma rica e boa.

Apaixona-te pela natureza que está te envolvendo, ela é fiel, gratuita e absolutamente disponível e dá prazer.

O universo estará sempre conspirando a teu favor.

Escuta-o, por favor, pois a natureza é vibrátil, ela nos envolve em êxtases místicos e inefáveis através das suas pulsações cósmicas.

Nesses dias, terás a oportunidade de reciclar os teus sonhos e arejar os teus pulmões com o oxigênio novo e polivalente das matas e das brisas.

E por falar em sonhos, eu quero te dizer que ninguém tem os sonhos mais apaixonantes do que os teus.

Os teus olhos se encherão de verde, a floresta com os seus rumores misteriosos e o farfalhar das ramagens serão os teus confidentes, para que tu possas editar e revigorar o teu inconsciente áureo.

Regozija-te com essas emanações holísticas, porque na verdade, tu és um micro universo cheio de amor.

Apaixona-te minha linda, pela idéia de ser verdadeiramente feliz, pois a felicidade se encontra e está lá nas prateleiras dos teus recursos interiores.

Ah! Os teus pequenos e andarilhos pés terão se tu quiseres, a santa e única oportunidade de sentir, a frescura borbulhante e líquida de um regato manhoso e pueril se escorregando montanha abaixo; solto e louquinho como os teus sonhos.

Lavarás as tuas lindas mãos brincando com aquelas refrescantes moléculas e, assim, acariciarás o aveludado musgo das pedras que ali dormem há séculos, esperando calado pelas tuas carícias.

Talvez um limo verde cremoso e macio como as tuas faces de menina lépida e traquinas.

Lembra-te minha menina madura, pedra que muito rola não cria limo, esse é um dito da minha terra, destarte, eu bem sei que um dia haveremos de criar os nossos limos.

Também o regato e o seu burburinho em festa nos reportam à infância, aquela infância cheia de índios, de piratas, de monstros, casinhas de fada com paredes de brilhantes, cocadas coloridas e abajur enfeitado de estrelinhas.

Às vezes, eu me sinto e me porto um tanto egoísta, porque te quero sempre para mim.

Minha linda e querida pedra mimosa, não roles mais pelos regatos da vida, eu serei o teu limo. Por favor, pare em mim!

É evidente minha querida que eu gostaria de estar contigo enroscado nessa floresta, para deitados na verde relva e banhando-nos no regato como dois apaixonados perdidos do mundo, esquecer aquela preocupação com a responsabilidade dos terríveis horários e os duros compromissos de uma vida que se diz civilizada.

Ah! E quando chegasse à noite!

Entre os teus braços carinhosamente tutelado, escutaria a sinfonia da natureza com os grilos estalando os cristais como se fossem violinos de uma sinfônica.

 E a coruja com a sua sabedoria, regendo a partitura com os seus pios agudos e o sapo com o seu contrabaixo, metrificando essa canção noturna lá do seu banhado ermo.

Os teus braços seriam para mim as batutas do amor, regendo e acelerando o ritmo e os compassos dos nossos corações com os insistentes carinhos, num uníssono, desejado, alegro e sensual amor. Santa sinfonia!

Mas eu tenho de entender que, por enquanto, eu te deixo partir, entretanto, conforto-me e sei que chegará o dia em que partiremos juntos.

Tu sabes que eu só tenho a ti para o consolo do meu coração, e que somente os teus olhos cândidos iluminam o meu confuso ego.

Pois, esse meu palco inconsciente e muito particular, já te decodificou e identificou como um arquétipo lindo e novo de amor.

Entretanto, quando tu partes assim, penso ser uma partida definitiva, e aí, os meus olhos ficam tristes, pois eles entendem tratar-se de um adeus.

Esses meus olhos que eram duros e frios fecham-se em claustro numa tristeza, para somente ressuscitarem com a tua festiva chegada.

Esta é um prosa sem jeito e muito torta, mas tu sabes que nessa minha maneira torta de te amar, existe um horizonte infinito e retinho e muito certinho de amor.

É verdade, eu te amo de forma torta, mas é nessa tortuosidade que eu me embriago com o teu amor.

Ah! Tu me desequilibras é verdade, não porque vivo embriagado pelo teu amor, mas são os teus olhos que me fazem perder o sentido do equilíbrio e o senso da realidade.

Ó vespa amorosa embriagada de amor!  Os teus olhos estão grávidos de mel e os teus lábios contêm a sedução da pitanga silvestre.

Portanto, minha linda Senhora Mendonça, apaixona-te por mim primeiro e não deixe me apaixonar sozinho só por uma questão de garantia e segurança.

Eis os motivos da minha contínua e turva embriaguez.

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 27/01/2007
Reeditado em 28/01/2007
Código do texto: T360544