A espera
Pela transparência do vidro da janela,
Por entre a folhagem
Do jardim externo do Sobrado,
Observo a vida passar, lentamente,
Alheia às minhas angústias.
Chuvoso e sombrio
Lá fora o dia é triste
Apenas as plantas se movem
No jardim da escola em férias
Só há vida na chuva que cai
E nas plantas que se movem
Impulsionadas pelo vento
Santa Maria!
Por que o nome me enterneceu?
É apenas uma escola
Molhada e sem alunos
Com grades pontiagudas
E um meio-fio amarelo
Como a dizer – Não pare
Ninguém para
Ninguém passa
Só os automóveis passam
Com vidros escuros e fechados
Não se vê ninguém dentro deles
A chuva não para
Vejo os seus pingos
Molharem o asfalto
E as plantas do jardim
Não vejo pessoas
Só os automóveis passam
No asfalto molhado
Deixando um rastro de vapor
Que logo se desfaz
Com os novos pingos que caem
Ninguém passa
Só a mulher com o guarda-chuva azul
A única a sair na chuva
Coragem ou necessidade?
Não sei
Não tenho respostas
Olho novamente o relógio
Os ponteiros se arrastam
Mas eu não tenho pressa
Pois tudo na vida passa
Ainda que lentamente
Até a chuva também passou