Gente grande
Você era uma criança com os ideais não muito diferentes de qualquer outra. A seriedade adulta era algo que devia ser respeitado e até mesmo admirado, “porque gente grande sabe das coisas”. Achava que para namorar como gente grande era preciso um amor profundo, mesmo que você não compreendesse que tipo de amor que envolvia o casal. Achava que seus pais viveriam juntos para sempre e que eles eram torres concretas de proteção, por mais que às vezes vocês não concordassem com as mesmas coisas.
O tempo fora passando e você se esquecera de desejar ser gente grande, ao passo que ia descobrindo que para ser grande antes é preciso sofrer. Sofrer como gente, despencar como gente, errar e aprender como gente. Pelejando como gente. E, quando se esquecera até mesmo do que era ser gente, descobriu que se tornara gente grande. Seu jeito já não é mais o mesmo, seu sorriso não é mais o mesmo, seu olhar já não é mais o mesmo e nem ao menos sua ingenuidade e pureza permaneceram intocáveis. Tudo se modificara, e você por fim entendeu o que é crescer. Se tornara uma pessoa mais séria, mais responsável, mais equilibrada, mais desconfiada.
Aos poucos teve que descobrir que nem tudo é como você imaginava e que para tudo seriam preciso escolhas e riscos. Descobrir que talvez seus patronos sejam tão frágeis quanto você e que a tal proteção da qual você fugira para se realizar como gente talvez fosse o modo deles de expressarem que não queriam que você se machucasse, descobrir que morder a maçã talvez não seja tão confiável – por mais que geralmente não se tenha escolha. Descobrir que as coisas não costumam ser tão estáveis como você idealizava, e que de repente até mesmo nós nos encontramos presos em relações frias, com base em uma série de segredos, mentiras e uma apatia psicótica , um tanto mais complexa do que deveria ser a princípio.