Aprendendo a Reaprender

Não acordei ainda para as auroras que ainda dormem dentro de minha alma? A Porta de meu ser estava aberta para a verdade universal do teu corpo. Meus olhos suspiravam o som de tuas carícias, e a plenitude dos teus abraços. Todavia um céu esverdeado e pálido se desprendeu do teu corpo, e a inércia homicida do amor que pensei existir nas tuas palavras despojou a tua verdadeira alma a qual sempre fora oculta no âmago das mentiras que tuas máscaras disfarçavam e encobriam. A Porta de meu ser fechou-se por si mesma, e lágrimas acenderam uma escuridão diletante nas paredes, no teto, no chão e em todos os santuários das minhas emoções. Tentei reabrir esta mesma Porta a qual se recusava ouvir o tato rutilante de minhas súplicas, enquanto teu riso (infectado de indecisões, ilusões e fumaça) eclodia longe dos feudos do meu ego. Construímos uma nova moradia dentro de nosso ser para a pessoa a quem amamos. Todavia essa pessoa ao entrar pela porta de nossa alma não era quem pensávamos abraçar, beijar, conhecer, dialogar e compreender. Então esse ser estranho, que se imaginava conhecer e amar, se torna apenas em sensações, impulsos e pensamentos que se contorcem dentro de nós, e nos faz querer tirar o capuz do olhar de nossa lucidez com que havíamos nos vedado, para que se possa enfim exumar e periciar a verdade do que sentíamos e pensávamos sobre quem nós amamos, ou que se julgava amar.

Um Eclipse engravidou minhas ideias com fúrias, rancores, e desprezos para mim mesmo, ao não ouvir os salmos metafísicos de minha Razão tão exausta dos meus erros. Este Eclipse, dentro de minha alma, germinou a Desesperança e a Incerteza em tudo o que o meu ser antes pensava, olhava, tocava, almejava, e todos os Lírios que havia plantado para ti se suicidaram ao contemplar o Eclipse de minha Lucidez ressuscitada; lucidez que renasceu em cada neurônio do meu sentir quando teu corpo morreu nos altares de minha idealização pelas garras patogênicas da inércia do Amor que não geraste no útero do teu coração e de tuas ações.

Desaprendi a chorar, desaprendi a amar, desaprendi a odiar, desaprendi a acreditar, desaprendi a formar imagens nas nuvens celestiais; desaprendi a sair de dentro de meu próprio íntimo; desaprendi a querer o querer burguês e contemporâneo; desaprendi a desaprender as variáveis formas do desaprendimento. Contudo, em toda essa desaprendizagem de Tudo eu reaprendi novas configurações de sentir, novas representações conceituais; reaprendi a gerar novas lições em cada símbolo visual e fônico, tudo isso proveniente das flagelações vergastadas pela vida, pelo tempo, e pelos fatos em cada nervo e ossos da minha alma. Nesse aprender a reaprender nos ermos arados pelo meu amor a essa paradoxal Existência, não houve um único amigo a querer tentar apontar os barcos de um novo horizonte vespertino, sendo que até mesmo os demônios, o Silêncio e a Solidão fugiram para longe da Tristeza do meu Olhar cosmopolita. Quando perdermos algo, ganhamos um novo olhar sobre o que foi perdido, e isso nunca é vão.

Todavia, novos Lírios vulcânicos nasceram do magma de minha alma, e queimei o Livro do Destino, do Livre-Arbítrio, das Casualidades e das Probabilidades. O sol não amanhece para aqueles que acordam, mas para aqueles que não temem viver os fluxos e refluxos da Vida, afinal foi na beira sísmica do precipício de meu Corpo, onde o passado e o futuro se fundem numa única fronteira inultrapassável, eu encontrei a minha poética e casta alma tão usurpada em minha infância, e quando ultrapassei a fronteira de todas as possibilidades de quem eu poderia ter me tornado e encontrado além do rio do devir, eu inferi que jamais se regressa de lá para outro caminho com o mesmo espírito perscrutativo e cognitivo. Ao levantar-me de meu adormecimento dogmático, percebi que deveria destruir todos os dias partes do meu ser, queimar-me nas fogueiras líricas de minha própria sanidade multifocal, a fim de que eu pudesse subjuntivamente construir, edificar, fecundar e criar, de tudo o que é inóspito, um novo “eu”, com um novo espírito e um novo corpo abstratamente concreto dentro de mim, e tudo isso em cada inédito amanhecer de minha alma, cujo sol neural e cósmico jamais caminha para as cortinas do Poente.

A partir de agora, todo Partir é o começo e um redescobrir reformulados e transformados, fluindo nas artérias de cada ideia, de cada pensamento e emoção que reverberam nos rios apolo-dionisíacos do meu ser; este meu ser sacramentado ao Conhecimento de mim mesmo, e a cada gota que compõe o aparentemente conhecido e desconhecido da Vida.

Gilliard Alves Rodrigues

Acaraú, 05 de Abril de 2012

4h12minu

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 05/04/2012
Reeditado em 05/04/2012
Código do texto: T3595756
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