Não Preciso de Você.
Não tê-lo por perto me causava um imenso arrocho no coração.
Boca seca, descompasso na fala,
olhos curiosos à procura de algum indício,
mãos de volta às páginas daquele mesmo início
e aquela letargia pesando nas pernas como calça de veludo...
Nossa casa, sem número ainda, nosso sonho sem realização
nossa varanda ainda sem um céu com lua,
nossa história em plena construção...
E eu pensando não saber viver de outro modo, senão o de espera,
pois ao deixá-lo sair de mim
dei de cara com a solidão e o despreparo...
caso raro, eu e você.
(Meus pés caminham, mas não chegam, e a vida parece parada...)
Então, num certo dia de março, com os pássaros enlouquecidos com a claridade, onde o dia entrou pela porta esquecida entreaberta,
percebi que sobrevivo sem o som que espero toda hora,
e que me faz aliviar a existência...
Agora olho o telefone e entendo
que posso viver sem você, meu amor,
mergulhada em ausência.