Ah, o Tempo...
Vem numa tristeza, arrastando folhas, no salto alto dos ipês. Outono do sol indeciso, ora frio, ora quente. Ora em prece, ora em desprezo.
Dos olhos a esmo sondando o horizonte em busca de respostas. Uma igrejinha ao longe, um ganido na esquina. Uma onda de nostalgia massacrando o peito onde as flores se escondem.
E se foi o bom Chico, só isso, não é só. É muito, foi-se um mago nas linhas melódicas do novo ciclo.
Tantos senões, tantos talvez, tantos quases. E a constantação de uma imensa solidão, crianças querendo colo, idosos a cruzar braços buscando em si mesmos proteção.
Se não fosse pelo riso a cortar a tarde, cortaria a tarde o caminho em busca da noite. Atropelando as roupas do varal, fechando janelas num frêmito arrepio de desassossego.
É o tempo que bate a porta, acabaram-se as noites quentes, acabaram-se as manhãs de pés no chão. É o tempo mostrando quem é o senhor da magia, dos romances, dos amores, das paixões, da vida e da morte. O tempo, esse que tece sua propria face e sorte.
Hoje outono, ontem verão, o futuro? Se estivermos vivos, inverno, se estivermos mortos, inverno, quicá depois, céu ou inferno. Por hora, somos todos frutos. Um dia, todos quedaremos de nossas árvores rumo à terra, ao chão. Em tempo, ao tempo, compassos de uma canção.
Que cumpra-se o outono das reflexões, que cumpram as folhas secas seus destinos. Que cumpra cada ser seus infortunios... Afinal, somos todos filhos da mesma natureza. Bois, vacas, homens, gatos, cães, borboletas. A natureza dos filhos não faz distinção. Que cumpra-se o nosso tempo. Ciclos, vida fatiada em estações.