DE AMOR E DE SOMBRAS.

 

 

 

                                       Impregnado por um sentimento de benquerer e orbitado por um halo de pura alegria, hoje me propus escrever essa mal chamada prosa para ti.

Mal chamada sim, porque ainda não aprendi a sintonizar os reclames da minha alma, que necessitam de nomenclatura própria para identificá-los e extravasar esse grande amor que sinto.

Sinto que esse amor já nasceu torto, não porque seja indevido ou não tenha a respectiva correspondência linear, mas é torto porque todo o amor para ser amor real, ele normalmente nasce torto e entorta a alma.

Por isso, essa prosa é chamada assim de: “mal prosa”, quando na verdade eu deveria chamá-la de “prosa torta”.

Mesmo nessa tortuosidade natural, esse amor que era virtual, agora se transformou por excelência em real, e assim, ele já navegou os teus lindos olhos de forma calma e franca.

Ó minha menina madura, hoje eu posso te confessar que os meus olhos eram duros e frios, mas com a tua candura e a paciência extremosa tu os fizeste novamente bons e suaves.

Até então, minha menina, eles estavam cerrados para o mundo e somente os revestia a dor, o silêncio e a saudade.

E assim, tateando os dias dolorosos que por mim passaram, senti o flagelo na dor da tua ausência e no eclipse dos teus lindos olhos de mel.

O mundo me oprimia, os dias se arrastavam aplicando-me um castigo cruel e letárgico e, quando a noite chegava, as mariposas noturnas estonteadas sugavam as minhas enevoadas lembranças.

Os sonhos encantadores sumiram no crepúsculo que se fazia em mim e, nesse enleio de dores, o meu eu profundo adentrava num túnel de assombrosos labirintos, levando-me de forma incoercível e silente para uma dimensão de pesadelos horríveis.

Mesmo nesses tumultuados e dantescos sonhos, havia momentos de amor e de sombras, acredito que era a tua alma se fazendo presente para aliviar as minhas dores inconscientes e oníricas.

As manhãs já não eram as mesmas, pois havia um bem-te-vi, um verdadeiro pássaro arauto e olheiro que de altas copas me trazia recados de ti.

Ah, esse bem-te-vi tu bem o conheces, pois ele sempre te acordou pelas manhãs para mim.

Porque naquelas manhãs, eu sorrateiramente escondido entrava no teu quarto suavemente como o vento, e tu sentindo a minha presença de brisa puxavas uma coberta a mais, num gesto instintivo de proteção.

Assim eu imaginava estar sendo aconchegado ao teu corpo quente e sentia que tu também gostavas, pois esboçavas um matinal sorriso cheio de malícia menina e trejeitos preguiçosos.

Senhora, minha doce e madura menina, os teus olhos são para mim um feixe colimado de luzes, verdadeiros faróis que insistem em me indicar com os seus relâmpagos luminosos de mel, seres tu, o meu porto seguro grávido de carícias pronto a ser atracado pela minha nave que cansou de navegar sem rumo.

Agora nas luzes e no calor deste janeiro, o meu coração que era ferido agora já se sente inteiro, para balançar suavemente nas ondas das emoções do nosso mar interior e verdadeiro.

Todavia, minha linda menina, esta prosa-poética não deverá ser chamada mal prosa, mas sim e simplesmente chamada de boa prosa: “De amor, de sombras e de esperanças”.

Quão lindos são os teus olhos!

Ó menina, deixa-me navegá-los por um instante hoje à noite?

Ó abelha dourada mineira, tu zumbes ébria de mel em minha alma!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 24/01/2007
Reeditado em 24/01/2007
Código do texto: T357042