Aquela gaivota...
Aquela gaivota já não é a mesma. Antes, planava sobre as ondas, mergulhando aqui e ali, bicando os peixes que se aventuravam na linha divisória entre o céu e o mar. Triste e sem gorjeio, jaz prostrada num canto qualquer de pequena duna branca, como se o mundo deixasse de existir. Penso nos possíveis vãos motivos pelos quais a ave tagarela deixou de sorrir, mas não encontro resposta. A não ser que tagarelar seja a chave do grande teatro ilusório, conhecido por vida. Ou então, a vida é um grande e ilusório teatro, onde todos se põe a tagarelar em cena. Quando a cortina fecha e a platéia dorme, a tagarelice cessa. Vem a inexplicável vontade de chorar baixinho para ninguém ouvir. Acho que foi por isto que a gaivota preferiu o silêncio. Desistiu do teatro vida. Por isto eu prefiro o silêncio. Para não acordar a platéia, que continua dormindo.
Paulo Orlando dos Santos