FEITIÇO DO CANTO DA SEREIA

Não me lembro das gaivotas que encontrei pelo caminho.

Elas voam e eu vôo com elas. Mesmo com o mar em ressaca.

Mas não me lembro. Então eu grito ao mar em fúria.

O que adianta gritar ao mar? Ele só escuta a canção do vento. Mas gosto de provocá-lo. Quem sabe um dia ele me escuta? Siluetas de pedra ameaçam o mar que ruge como leão mitológico em luta imaginária contra o rochedo. Não importa o tamanho da ressaca. A ostra continua na

calmaria, enfeitiçada pelo canto da sereia.

Se o feitiço me pegou, eu não me lembro. Deve ser por isto que as gaivotas partiram e eu fiquei aqui num vôo solitário e sem asas, sobre o mar bravio.

Queria falar delas. De como enchem o ar com a alegria de penas esvoaçantes, de sons estridentes, de vôos moleques, quase infantis. Mas não me lembro.

11/01/2007

Paulo Orlando
Enviado por Paulo Orlando em 20/01/2007
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