Vertente

Vou vestir aquele homem de um sal agreste. Ofertar o rio que não possuo mas que me deságua em fúria uterina. A ele darei frutos silvestres, doces, para serem abocanhados em escorrido. Minha floresta interna será a rota derradeira do seu caminho. Irei ofertar as linhas da minha mão esquerda e mostrar a ele por onde deve andar para não se perder. Deixarei que adentre, que penetre até onde está a magia. Que beba no açude, vasculhe pelo musgo e sorva esse molhado, dormente de ardências. Deixarei que desbrave a terra e a lama, que se suje, esparja e role feliz. Darei o eterno, o implacável, o não dissolvido pelas caminhadas e andanças e por onde ninguém trilhou. Darei o horizonte que recebi por direito e que oferto por gosto. A beleza das tempestades com seus raios e a tranqüilidade das chuvas com seu cheiro de terra. Quero que ele tenha o mar e que seu navio tenha um porto. Que levante suas ondas, enquanto mar. Que veleje, enquanto barco. Que aporte, enquanto cais. Darei a liberdade do tempo na ausência do medo. As febres suadas em profunda alegria e imensidão.

Darei o que não tenho, mas que invento. O que não possuo, mas que sustento. O que não me pertence, mas que tomo. Darei a ele um dia de domingo.