imagem: Lauri Blank

Vida por Teimosia


Uma vida que veio à luz pelo avesso: ao invés de movimentar-me para fora, subia e protegia-se junto à parede do abdômen.
Agindo rápido, a obstetra ordenou à enfermeira:
- Enganche suas pernas na parturiente e faça pressão para que desça, suavemente.
Cianótica criatura é apresentada ao mundo (sem lesõe diagnosticadas).
O tempo passou e sou gratidão à vida.
Agora, 05.30h, lembranças fora de hora (coisas da minha mãe).
Aqui, entre matas, regatos, estradas de chão, poeira de estrelas, apraz escrever.
Daqui a pouco o sol vai nascer.
As máquinas de cortar capim são ligadas e o peão passa com sua moto para a lida na ordenha.
O galo canta em saudação à manhã que se aproxima.
Tento descartar o teclado mas a teimosia cobra.
O “word” aberto não se intimida.
A intuição me guia tal cigana que não lê mão, mas abre o coração.
Cigana de idas e vindas, de socorros sem ser socorrida, não importa: é missão!
E continuo aqui, acionando o teclado.
Agora, ouço o latido de um cão; o barulho da boiada tocada na estrada que leva consigo inspiração.
Salvo a página e vou dormir.


Rogoldoni
13 02 2012
revisado em 17 07 2014
Rosângela de Souza Goldoni
Enviado por Rosângela de Souza Goldoni em 13/02/2012
Reeditado em 24/07/2014
Código do texto: T3496961
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