Poderia apenas começar pelo nome...
Mas Fortuna representava o primeiro grande navio, trazendo a temporada dos grandes transatlânticos. Pensar em fortuna tem outras inquietações e não se referia à riqueza, como muitos pensavam. Significava “Destino". Incluem-se assim, as relações de causa e de efeitos que possuem a Roda da Fortuna. Numa versão simplista: O destino da sorte!
O verso inicial de Carmina Burana na mente faz a associação: ”Oh! Fortuna, Imperatriz do Mundo! Aquela imensa e branca nave chegou há alguns anos. O cisne mágico e encantado que apontava para os rumos de um Shangrilá prometido e que, depois de vê-lo flutuar, num vai e vem de dois anos,fez com que, fascinada, a Imperatriz Beatriz, declarasse: Como fazer para viajar?
Planejar, poupar, descontrolar... Após algumas temporadas o destino nos fez embarcar. Mas, Fortuna já não viria mais a Costa brasileira, em seu lugar, um navio maior chegara: o Concórdia.
Tubarões, monstros marítimos, sereias gigantes para nos engolir, segundo minha mãe e, de comum acordo não a isso que fomos. Fomos comemorar as bodas de ouro especialmente a bordo. Embarcamos no mundo real dos sonhos. Tudo lá era magnificamente arrebatador, fazendo com que fantasias mirabolantes fossem subjugadas pelas explosões de cores e contrastes. A novidade nas formas das coisas, as surpresas no olhar, a exuberância que só haveria no requinte. Uma representação direta da Europa se fazia construir pelo navio cujos decks e salões restaurantes eram nomeados e tipificados nas cidades europeias. E a parte central do Concordia chama-se Atrium Europa. Um olhar de relevância para os elevadores panorâmicos em verde esmeralda que ascendiam e desciam doze andares, e por superstição, negavam o treze. E, para os lustres em forma de tentáculos de polvo, elaborados em vidro e cristal, que além do deslumbre continuamente mudavam de cor, passeando entre o verde das folhas de oliva, o vermelho dos pimentões, o amarelo do sol da tarde e o azul firme do mar. Lindos salões, como o do piano bar Budapeste, o salão de baile Viena que nem a Cinderela ousaria imaginar. Além dos muitos tons do verde, foi neste cenário a primeira noite de gala, luxo, cuidados com a maquiagem, beleza, alegria, baile e aquele jantar festivo dos brindes, fotografias e da perfeição. Dez dias inesquecíveis em alto mar, os quais ficaram marcados pelos mais profundos sentimento de concórdia. (não raro se pensava quem em alto mar, o resto do mundo era terra imaginada. Sonho distante... e de qualquer modo, se podia pensar que na vida devia existir algo que pudesse ser perfeito). Um privilégio do mar...
Aquela foi a ultima vez que o vi sorrir lá no fundo da alma. Pouco tempo depois meu pai se foi. Agora a nave se foi... Outras vidas se foram em meio a festa de uma Europa frágil na cor do verde esmeralda...
Hoje comparo as fotos dos grandes salões vazios: tão cheios de beleza ,mas sem vida. Falta algo naqueles salões! Faltam as almas, corações, abraços, sorrisos, suores, o medo de tropeçar e derrubar uma taça. Faltam os olhares. A beleza é inútil se estiver vazia de gente. Não existe concórdia nas coisas solitárias e vazias de tudo!
Poderia apenas entender o nome...
Concórdia é o mesmo nome da mais famosa Praça de Paris que foi projetada para representar a força, a justiça, a prudência, a paz e a liberdade, apesar de ter vivido o contrário.
A Roda da Fortuna não para nunca, na parábola da própria vida humana, cuja força devastadora se expressa na Opera de Carl Orff e não nos deixa esquecer que, a natureza, a beleza, a exuberância, os festejos e tudo mais, estão sujeitos as alternâncias do destino da sorte e do azar, da responsabilidade sobre o resultado, do encantamento que tem a poesia, o sonho que obedecem os ciclos que vem pelo vai e vem dos mares.
Talvez quando ler esta prosa possa lembrar-se de como fomos felizes. Alguém poderá dizer que foi só mais uma nave que afundou, mas os sentimentos bons ficam conosco, não é pai?
Mas Fortuna representava o primeiro grande navio, trazendo a temporada dos grandes transatlânticos. Pensar em fortuna tem outras inquietações e não se referia à riqueza, como muitos pensavam. Significava “Destino". Incluem-se assim, as relações de causa e de efeitos que possuem a Roda da Fortuna. Numa versão simplista: O destino da sorte!
O verso inicial de Carmina Burana na mente faz a associação: ”Oh! Fortuna, Imperatriz do Mundo! Aquela imensa e branca nave chegou há alguns anos. O cisne mágico e encantado que apontava para os rumos de um Shangrilá prometido e que, depois de vê-lo flutuar, num vai e vem de dois anos,fez com que, fascinada, a Imperatriz Beatriz, declarasse: Como fazer para viajar?
Planejar, poupar, descontrolar... Após algumas temporadas o destino nos fez embarcar. Mas, Fortuna já não viria mais a Costa brasileira, em seu lugar, um navio maior chegara: o Concórdia.
Tubarões, monstros marítimos, sereias gigantes para nos engolir, segundo minha mãe e, de comum acordo não a isso que fomos. Fomos comemorar as bodas de ouro especialmente a bordo. Embarcamos no mundo real dos sonhos. Tudo lá era magnificamente arrebatador, fazendo com que fantasias mirabolantes fossem subjugadas pelas explosões de cores e contrastes. A novidade nas formas das coisas, as surpresas no olhar, a exuberância que só haveria no requinte. Uma representação direta da Europa se fazia construir pelo navio cujos decks e salões restaurantes eram nomeados e tipificados nas cidades europeias. E a parte central do Concordia chama-se Atrium Europa. Um olhar de relevância para os elevadores panorâmicos em verde esmeralda que ascendiam e desciam doze andares, e por superstição, negavam o treze. E, para os lustres em forma de tentáculos de polvo, elaborados em vidro e cristal, que além do deslumbre continuamente mudavam de cor, passeando entre o verde das folhas de oliva, o vermelho dos pimentões, o amarelo do sol da tarde e o azul firme do mar. Lindos salões, como o do piano bar Budapeste, o salão de baile Viena que nem a Cinderela ousaria imaginar. Além dos muitos tons do verde, foi neste cenário a primeira noite de gala, luxo, cuidados com a maquiagem, beleza, alegria, baile e aquele jantar festivo dos brindes, fotografias e da perfeição. Dez dias inesquecíveis em alto mar, os quais ficaram marcados pelos mais profundos sentimento de concórdia. (não raro se pensava quem em alto mar, o resto do mundo era terra imaginada. Sonho distante... e de qualquer modo, se podia pensar que na vida devia existir algo que pudesse ser perfeito). Um privilégio do mar...
Aquela foi a ultima vez que o vi sorrir lá no fundo da alma. Pouco tempo depois meu pai se foi. Agora a nave se foi... Outras vidas se foram em meio a festa de uma Europa frágil na cor do verde esmeralda...
Hoje comparo as fotos dos grandes salões vazios: tão cheios de beleza ,mas sem vida. Falta algo naqueles salões! Faltam as almas, corações, abraços, sorrisos, suores, o medo de tropeçar e derrubar uma taça. Faltam os olhares. A beleza é inútil se estiver vazia de gente. Não existe concórdia nas coisas solitárias e vazias de tudo!
Poderia apenas entender o nome...
Concórdia é o mesmo nome da mais famosa Praça de Paris que foi projetada para representar a força, a justiça, a prudência, a paz e a liberdade, apesar de ter vivido o contrário.
A Roda da Fortuna não para nunca, na parábola da própria vida humana, cuja força devastadora se expressa na Opera de Carl Orff e não nos deixa esquecer que, a natureza, a beleza, a exuberância, os festejos e tudo mais, estão sujeitos as alternâncias do destino da sorte e do azar, da responsabilidade sobre o resultado, do encantamento que tem a poesia, o sonho que obedecem os ciclos que vem pelo vai e vem dos mares.
Talvez quando ler esta prosa possa lembrar-se de como fomos felizes. Alguém poderá dizer que foi só mais uma nave que afundou, mas os sentimentos bons ficam conosco, não é pai?